sexta-feira, 31 de maio de 2013

Vingança doce


Estêvão foi um imitador de Jesus. As frases de clamor por perdão no fim da sua vida não são as mesmas que Jesus proferiu, são muito idênticas, mas o coração é o mesmo. Estêvão também realizou milagres mas em nenhum outro momento ele se comparou tanto a Jesus como na hora da sua morte.


Atos 7:51-60 "Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; como o fizeram os vossos pais, assim também vós. A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que dantes anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e homicidas, vós, que recebestes a lei por ordenação dos anjos, e não a guardastes. Ouvindo eles isto, enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra Estêvão. Mas ele, cheio do Espírito Santo, fitando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus em pé à direita de Deus, e disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem em pé à direita de Deus. Então eles gritaram com grande voz, taparam os ouvidos, e arremeteram unânimes contra ele e, lançando-o fora da cidade o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas vestes aos pés de um mancebo chamado Saulo. Apedrejavam, pois, a Estêvão que orando, dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. E pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. Tendo dito isto, adormeceu. E Saulo consentia na sua morte."

Estêvão contrasta com Matatias. Matatias foi um Sacerdote judeu no II a.c. e é pai do herói Judas Macabeu. O rei era o grego-selêucida Antíaco Efifânio e durante uma revolta Matatias matou um judeu helenista que se apresentou para oferecer sacrifícios aos deuses gregos. Um ano depois Matatias também é morto e na hora da sua morte ele grita: “Vinguem-se do mal feito ao nosso povo. Vinguem-se dos gentios”

O terceiro filho de Matatias, Judas Macabeu (Macabeu quer dizer martelo), foi um herói contra os opressores Selêucidas e muitos na época pensaram que ele fosse o Messias. Contudo ele assinou um tratado de paz com os Romanos que se revelaram tão opressores quanto os Gregos. 160 anos depois nasce um bebé em Belém e em vez de um "Martelo" vem ao mundo um Emanuel.

Durante o seu ministério, os discípulos de Jesus queriam pernoitar numa aldeia de samaritanos e não são bem recebidos porque iam com destino a Jerusalém. Os filhos do Trovão, Tiago e João, perguntaram a Jesus se não seria melhor que descesse fogo do céu e os destruísse a todos. Esta era também a mentalidade dos discípulos: vingança.

Mas Jesus, ao contrário, veio chocar e espantar de uma outra forma: perdoando aos seus inimigos. O manifesto revolucionário de Jesus não era igual ao de Matatias. Também por esta razão, provavelmente, muitos rejeitaram Jesus e outros deixaram de o seguir. No coração dos Judeus fervilhava vingança mas no coração de Jesus extravasava o perdão.
  • Judas Macabeu foi o martelo de Deus;
  • Jesus de Nazaré foi o cordeiro de Deus.
Sim, até podemos afirmar que Judas Macabeu também foi um instrumento de Deus pois fazia parte de um propósito muito anteriormente planeado.

Estas são visões rivais do Messias que alguns ainda têm dificuldades em escolher uma delas:
  • Um é um vingador que se revolta contra os sacrifícios a deuses estranhos;
  • O outro é um reconciliador entre Deus e o homem que se oferece a ele próprio como sacrifício.
  • Um é promotor de vingança e derramamento de sangue;
  • O outro derrama do seu próprio sangue para considerar vingado todo o pecado. “Minha é a vingança, diz o Senhor…”
Se Jesus tivesse seguido a agenda revolucionária dos seus antecessores nada teria mudado até hoje. Em vez de Babilónia, Pérsia, Grécia, Roma, Israel teria tido a oportunidade de governar o mundo pela espada. Mas o que teria mudado? Teríamos apenas um Israel opressor e nenhuma mudança no coração humano. Apenas teríamos mais sangue porque a história diz-nos repetidamente que ninguém consegue paz plena pela força; ou então, o império de Israel seria mais uma ditadura passageira e nunca o Reino de Deus seria estabelecido na terra.
  • Jesus não veio conquistar o mundo com uma espada mas com uma cruz;
  • Jesus não veio perpetuar a vingança mas quebrar o ciclo vingativo;
  • Jesus não veio para golpear os seus inimigos mas para receber o último golpe;
  • Jesus veio para reconciliar Judeus e Gentios formando uma nova humanidade firmada numa cruz (Efésios 2:12)
O mundo está cheio de pessoas que clamam por vingança.
“A vingança serve-se num prato frio…”; ou, “a vingança é doce…”; só que que a vingança só é doce para a alma doente, porque depois da vingança virá a retaliação.

Estêvão não apresentou queixa no tribunal de Deus para o que lhe estavam a fazer. Ao contrário ele pediu para que o pecado cometido contra ele não lhes fosse imputado. Estêvão foi portanto um autêntico imitador de Cristo.

Os que são de Cristo não podem ter qualquer prazer na “doçura” da vingança. O cristão nunca diz: “É bem-feito”.

Dizem que a vingança é doce; à abelha custa-lhe a própria vida. A vingança não é doce. É uma chama do inferno que torna escuros os olhos de uma alma perdida.

Ali Agca foi o homem que tentou matar João Paulo II. Imediatamente foi capturado e julgado. E o Papa mais tarde foi visitá-lo à prisão apresentado-lhe a sua disponibilidade para o perdão, face a face.

Noutra época um atentado destes teria gerado uma guerra. Mas João Paulo II decidiu perdoar o seu inimigo. Imitou Cristo. Ali Agca disparou ódio. João Paulo II disparou perdão.

Quem é o seu Ali Agca? Quem já disparou contra o teu coração? Quem é o nosso Ali Agca? 

É por isso que a cruz é um escândalo para os "gregos". Num mundo conturbado pelas guerras uma cruz faz toda a diferença. Uma cruz, entre tantas outras de inúmeros inimigos sacrificados daquele mesmo modo naquela época.

I Co 1:18, 23, 24 
"Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos, mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus."

Porque é que você diz que é cristão? Ser cristão é imitar a Cristo. Ser cristão é tomar uma cruz. Imitar a Cristo, como Estêvão fez, é a evidência de que somos salvos.

Vamos entender ainda melhor a cruz. Jesus na cruz não apenas perdoa uma dívida mas ele absorve uma injustiça. Grandes dívidas não são fáceis de perdoar porque elas envolvem grandes perdas. É apenas com dor e perda que o perdão é concedido a quem o pede. 

A justiça nunca se alcança pelo pagamento da dívida porque ela nunca pode ser saldada. As balas foram extraídas pelos médicos do corpo de João Paulo II mas apenas o perdão pôde arrancar o ódio do coração de Ali Agca.

Uma outra heroína do nosso tempo disse: “Decidi à muitos anos que quando fosse libertada não levaria da floresta nenhum tipo de amargura nem nenhum tipo de vontade de vingança. Não quero esquecer, mas quero perdoar” Ingrid Betancourt (senadora Colombiana raptada pelas FARC durante 6 anos.)

Sem perdão ela continuaria agrilhoada às árvores na selva. Perdão não tem a ver com abdicação da justiça, mas tem a ver com entrega a Deus da reparação de danos que não conseguimos ver reparados. Até Jesus mostrou as suas feridas aos seus discípulos pois o seu sofrimento fazia parte agora da sua identidade.

O perdão pode salvar vidas, não apenas do ofensor, mas também do ofendido. “Perdoar a injustiça sofrendo a perda sem realização e trazendo assim a possibilidade de redenção a todos os envolvidos, é a plena imitação de Cristo disponível a todos nós” 

Inspirado em, e resumo do capítulo “A imitação de Cristo” de Incondicional, de Brian Zahnd, Letras d'Ouro.

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