Um dia entrei num autocarro com uma nota de 5.000,00 escudos, cerca de 25,00 euros, demasiado valor para aquela época dos anos 70, e o motorista recusou-se a aceitá-la porque não tinha troco, portanto teria que descer do autocarro. Fiquei visivelmente irritado, disponível para uma boa confusão no autocarro, mas um passageiro ofereceu-se espontaneamente para me trocar a nota por outras cinco mais pequenas e então pude seguir para o meu destino. Este episódio passou-se na Cova da Piedade, num Domingo, onde eu tinha ido para um culto na Assembleia de Deus local.
Quando cheguei a casa contei ao meu pai o sucedido e ele repreendeu-me dando razão ao motorista porque ele estava a trabalhar e a cumprir com o seu dever. A minha obrigação era ser educado e ter procurado por mim próprio evitar confrontá-lo com uma situação que não estava ao alcance dele resolver. Nunca mais me esqueci desta lição, que deveria RESPEITAR quem trabalha.
Recentemente, onde presto serviço como segurança em Sesimbra, abordei certa pessoa que desconhecia do seu direito de estar no local, perguntei sobre a razão porque estaria ali e recebi como resposta “não falo com pessoas da sua laia”, e virou-me as costas. O sujeito estava acompanhado de um garoto de cerca de sete anos, os empilhadores circulavam escorregadios para a frente e para trás, e este irresponsável nega-se a perceber que além do local ser um perigo para o seu acompanhante menor eu estava fardado e representava algum tipo de legitimidade para o questionar. Soube mais tarde que era de facto pescador e que o petiz era o seu próprio filho.
O comportamento de ambos os pais aqui mencionados faz toda a diferença. No primeiro filho posso garantir-vos que teve um efeito positivo, no segundo diga-me você o que lhe parecer.
Como se educa um filho? Pelo exemplo. É certo que nem todos os filhos seguem os nossos bons exemplos e alguns escolhem o caminho da rebeldia por opção própria mas a verdade é que muitos pais se demitem completamente de moldar os filhos no que toca ao respeito pelos vizinhos, pelos professores e pelos líderes. O “normal” hoje em dia é um filho queixar-se de um professor e os pais eles darem-lhes razão sem sequer ajuizarem correctamente. O meu pai não precisou de ir perguntar ao motorista do autocarro para questionar sobre a minha razão.
Nos lares em que nem sequer há qualquer diálogo então a situação piora. Os pais abandonam os filhos na televisão, no computador, em casa, e vivem a sua vida como se eles não existissem. Os filhos por sua vez ganham hábitos de autonomia precoce, usando a linguagem dos seus pares sem fazerem qualquer diferença quando falam com os seus pais, e ficam muito traumatizados quando se lhes diz “não” à coisa mais insignificante.
Como os filhos hão-se aceitar uma repreensão de um professor ou o reparo de um pastor da igreja se eles em casa é que “mandam”, isto é, ditam as horas de comer, de deitar, de levantar, de sair, de chegar a casa? Muitos filhos hoje em dia crescem totalmente deformados relativamente às adversidades que a vida também tem, pois durante anos fizeram tudo quanto lhes apeteceu e foram presenteados com todas as facilidades durante o seu crescimento.
No momento em que este tema se tornou pertinente para a nossa comunidade, curiosamente para a nossa igreja em Fernão Ferro e também dos Açores, os tópicos que escrevi no meu notebook foram estes e não vou fugir a nenhum.
Mas antes de continuarmos veja este vídeo:
Você não se revê neste vídeo em nenhum dos seus aspetos? Então prossigamos.
1. Comunicação.
Hoje em dia a comunicação mesmo entre muitos adultos está reduzida a frases curtas escritas nas redes sociais. A comunicação verbal está em desuso em muitos lares sendo substituída por “bocas”, “indiretas” e raspanetes à moda dos comentários em redes sociais. Em muitos lares as famílias precisam de reaprender a capacidade de partilhar os seus sentimentos de uma forma espontânea, livre, e sem medo de julgamento ou gritaria como resposta.
Comunicar é uma arte que se aprende. Lamentavelmente os pais já não são assim tão presentes para ensinar a comunicar. Não estou a falar de “aprender a falar”, mas de “comunicar”. A comunicação é essencial para entendimento entre as pessoas porque “falar” eles aprendem uns com os outros de qualquer maneira, mas se um adulto, pai e uma mãe não lhes ensinar que deverão ter formas diferentes de falar e entoações diferentes de voz para com diferentes pessoas, eles nunca irão desenvolver a capacidade de aplicar essas diferenças. Outras áreas que precisam de ser trabalhadas são os tiques gestuais com a face que em muitas situações não expressam qualquer simpatia para com o interlocutor. Também ao responder ao telefone, se for convocado para uma entrevista para emprego depois de responder “tô…”, então conseguimos um milagre.
Tive uma professora que um dia me ouviu referir-me a outra pessoa como “ela”. “Ela quem?” perguntou-me. Aprendi rápido. Bem sei que já não há professores assim, mas tem que haver pais responsáveis por ensinar aos seus filhos sobre bons costumes linguísticos.
No caso do seu filho ou filha não fazer nada em casa de tarefas domésticas em casa então prepare-se que ele/a vai espernear, dizer que antes não era assim, que tem que estudar, que não tem tempo, etc…
Lembre-se que você concorre com os famosos da casa dos segredos, com os programas juvenis com atores cuja vida é só facilidades, que namoram com este e depois com aquele, onde tudo é fácil e os sentimentos não existem, apenas o egoísmo e o interesse pessoal.
Num lar tem que haver liberdade de comunicação para que qualquer dos seus elementos se expresse sobre qualquer coisa que o/a incomoda. Pode não se conseguir chegar a um acordo mas todos podem continuar a caminhar num mesmo propósito pois haverão coisas mais em comum do que aquelas que nos separam.
2. Faça perguntas.
Para quem perdeu a capacidade de comunicar, quando o clima está muito tenso ou quando há um assunto que precisa de ser conversado e que demora tempo a trazê-lo “à baila” o ideal é quebrar o gelo com perguntas ligeiras.
O que se diz a uma pessoa que acaba de receber a notícia que vai ser despedida? O que se diz a um filho que teve uma má nota? O que se diz quando se está irritado quando o outro errou? Pode dizer-se muita coisa mas o mais sábio é fazer perguntas.
- Como te sentes?
- Estás muito aborrecido/a?
- O que aconteceu?
As perguntas permitem com que a pessoa dê respostas e não se coloque na defensiva. Mostram de que deste lado há uma preocupação pela pessoa mais do que com as consequências do seu erro ou do drama que a afetou.
Um dos grandes erros na comunicação no lar é a acusação e o juízo em cima de um facto consumado. Não há forma de fazer recuar o tempo para trás, então temos de continuar a em frente e com a dificuldade que entretanto surgiu. As perguntas facilitam o diálogo em todas as situações de adversidade.
3. Linguagem apropriada.
Pode dar-se o caso de você também já não saber usar as palavras mais adequadas para comunicar.
- Você usa palavrões em casa? Deixe de os usar de todo durante todo o dia;
- Você está sempre a criticar o seu conjugue? Nunca mais o faça e troque esse comportamento por elogios;
- Você está sempre a dizer mal dos outros o tempo todo na frente dos seus filhos? Nunca mais o faça na presença deles;
- Você utiliza palavras de acusação como “teimoso”, “burro”, “incompetente”, “sensível”, e outros adjetivos com o propósito de demonstrar a superioridade dos seus valores e arrumar definitivamente o seu interlocutor, conjugue, ou filho?
A linguagem agressiva ou calma no lar irá ser determinante na forma como o seu educando irá atuar no futuro nesta área. O seu temperamento até poderá ser diferente do seu filho mas é o seu caráter que está em exposição nesse momento. Não confundamos defeito com feitio; uma coisa é a nossa estrutura temperamental, outra é a nossa deficiência no carácter. Divertido, concentrado, calmo, introvertido e extrovertido, tem a ver com temperamento; agressividade verbal, gritaria, indiferença e mau humor tem a ver com carácter.
4. Unidade
É frequente entre os pais que um se dedique mais à educação dos filhos do que o outro. Até aqui “menos mal” mas os problemas começam quando o diálogo entre os pais falha. Quando um se demite da comunicação em família está tudo estragado e pior irá ser quando um é rigoroso com algumas exigências, e o mais condescendente ou menos formado toma partido do filho desautorizando o primeiro nas diferentes instruções que são transmitidas.
Há ainda casos em que um dos conjugues não autoriza de modo algum que o outro tenha alguma palavra a dizer sobre: autorização para sair, horários a cumprir, tarefas a fazer, etc… É melhor dizer aqui, e já, que isto irá resultar num total desastre para o desenvolvimento da criança / adolescente, porque entre outras consequências, mais tarde ele/a vai dizer que o pai ou a mãe nunca se preocupou com a sua educação. Ser condescendente e permissivo não irá ajudar o educando na construção das defesas que necessita quando tiver que enfrentar as adversidades.
Para resolver esta dificuldade, o problema tem que ser corrigido no primeiro ponto deste artigo: comunicação. Uma boa comunicação na família começa pelo exemplo entre os pais.
5. Afetos.
Um beijo faz toda a diferença. Uma palavra agradável, um elogio pela manhã, é um estímulo muito saudável para elevar a motivação para enfrentar o dia. E não é preciso dar beijos forçados, basta fazê-lo à saída e à chegada.
Há pessoas que por temperamento têm muita dificuldade com os afetos físicos e com os elogios verbais sinceros. Então essa é uma área que tem de ser trabalhada na tua vida.
Haverão porventura e eventualmente traumas relacionados com toques impróprios durante a tua infância ou uma estranheza porque a infância não foi construída com esse tipo de afetos, mas isso também necessita de ser trabalhado na tua vida de forma que seja quebrado esse comportamento frio que teve origem nalgum défice no passado.
Beijar o conjugue na frente dos filhos é bonito também e um bom exemplo. Não esperes portanto uma boa receptividade para um beijo do teu filho/a se não tens esse hábito no teu dia-a-dia como exemplo.
6. Horários.
Você ainda não se esqueceu que o mote deste artigo é o exemplo, certo? Você tem horas para levantar da cama, certo? Tem horas para ir dormir, certo? Vai deitar-se com o seu conjugue, certo? E obriga os seus filhos a deitarem-se a horas decentes, certo? Ok, então podemos continuar a falar sobre isto.
Bem, ainda não falámos de detalhes no nosso próprio lar mas uma das nossas lutas é o cumprimento de horários para deitar e acordar. A maioria dos adolescentes ficam colados nas redes sociais até muito tarde porque os modems ficam ligados 24 horas. E como “os meus colegas” fazem, então eu também “tenho de fazer”. Não é assim. O que os outros fazem é o que os outros fazem, o que nós fazemos não tem que ser igual a todos os outros, e ponto assente.
Ainda, a utilização da luz do dia para fazer coisas que dizem respeito ao dia é uma boa prática pois resulta em economia de energia. A luz do sol proporciona uma economia incrível de energia eléctrica durante um ano inteiro.
Ainda, se todos os membros da família estiverem acordados nos mesmos horários, facilita a comunicação e as tarefas domésticas. Era só o que faltava, a casa não poder ser aspirada porque o menino ou a menina está a dormir até à hora de almoço.
Quando eu dirigia acampamentos de jovens tinha uma tática infalível para os pôr a dormir de noite. Depois de todos termos concordado com o programa, ainda assim, era evidente que na primeira noite era uma confusão pegada e primeiro que adormecessem lavava o seu tempo, além de que há sempre alguém que entende liderar esta desobediência dissimulada até o mais tarde que for possível. Mas, no dia seguinte, levantávamos à hora marcada coisa que também não era assim tão difícil e durante o dia impedíamos as sonecas pontuais visando especialmente aquele “líder”. O resto dos dias corria maravilhosamente. Que tal fazer na sua casa umas regras de acampamento durante as férias deles?
A questão tem contornos muito sérios. O adolescente precisa de descanso cerebral tanto quanto de desenvolvimento pessoal na sua interação familiar e social. Consentir com outro comportamento é como ter um hóspede estranho em casa a viver num hotel. Cria-se um “divórcio” no lar e o que se pode esperar como consequência são relacionamentos afetivos frustrados no futuro e patologias psíquicas associadas.
7. Dedicação de tempo
Se resolvermos a questão dos horários de funcionamento da casa já resolvemos uma boa parte do nosso problema, porém podemos fazer ainda um pouco melhor.
Que tal um fim-de-semana em família, uma saída em conjunto para passear os cães, uma visita a um museu local, a televisão desligada à hora das refeições, e um período de tempo sem telefones? Isso pode fazer toda a diferença.
8. Atividades em conjunto.
Durante um período largo da minha vida enquanto interveniente em prevenção primária de drogas, e no tempo em que ainda não havia projetor de vídeo um dos acetatos que eu gostava muito era este: “faça coisas em conjunto”.
Restantes imagens e texto aqui.
É bem sabido que a imagem apresenta uma das facetas mais dolorosas para os homens: comprar roupa. Mas não é só roupa que é preciso comprar nas rotinas de família, essa parte mais aborrecida é só de vez em quando pois há também a parte em que se vai ao supermercado e as decisões são tomadas com maior rapidez. Mas a melhor parte não é carregar as compras: é sem dúvida aquela em se está junto em família e onde a comunicação é constante. É preciso aproveitar todos os momentos para se ganhar liberdade e confiança para comunicar. Se esta habilidade que se perder então o relacionamento humano tornar-se-á um conflito muito mais doloroso que ir comprar roupa uma vez por outra.
Como é possível que um adolescente quando tem um problema, os seus amigos o saibam primeiro que os seus pais? Simplesmente porque eles estão mais expostos ao contacto com os de “fora” do que com os de “dentro”. Alguém disse: “Você não perde o seu filho fora de casa, perde-o dentro dela”.
Uma questão premente é o direito do filho/a adolescente de decidir como quer passar “o seu tempo” livre. Outra questão é, até que ponto os pais têm o direito de obrigar o seu filho/a a ir à igreja. Bem, se os pais não correspondem com algumas das dicas propostas atrás será muito difícil conseguir ter autoridade para impor que os filhos/as os acompanhem em todos os eventos que eles consideram importantes. Aliás, se o seu comportamento em casa é o de pessoa demitida de valores para lhe transmitir, não espere que em alguma igreja consiga qualquer efeito. Pode tentar e resultar, mas será muito mais difícil.
Por regra, os pais têm o dever, por razões de segurança e responsabilidade paternal, de não deixar os seus filhos menores sozinhos, logo, eles têm o direito de exigir que os seus filhos os acompanhem por onde quer que seja, desde que não seja para lugares de conduta duvidosa como exposição ao álcool, bares noturnos, discotecas etc… (já se percebeu para que serve a noite como exemplo de conduta familiar).
Os pais podem obrigar os seus filhos a acompanhá-los a um culto religioso até aos 16 anos, sendo depois dessa idade uma livre opção deles. Aquilo que observamos é que muitos dos pais que são condescendentes para obrigar um filho a ir a um culto durante o dia, são os mesmos que são incapazes de o deter para sair à noite (ou mesmo de dia), com os amigos. Deste modo, inevitavelmente, eles “amarão” mais os seus amigos que os pervertem do que os seus pais que os sustentam.
Conclusão.
Aquilo que os seus filhos vêm como exemplo na sua casa será aquilo que eles levarão para o seu futuro, para a nova família e para os filhos deles. Certamente que eles decidirão também mudar aquilo que não gostaram que lhes tivesse sido imposto, e aprenderão com o tempo que também terão que introduzir algumas mudanças como resultado das suas aprendizagens. Mas faça os possíveis para eles não levarem este pacote com eles: o seu desinteresse, a sua omissão e a sua ausência.
.....
A reunião decorreu no dia 13 de Dezembro de 2013 e enquanto decorria a partilha e discussão ponto por ponto os presentes iam preechendo um questionário de avaliação pessoal e familiar. Aqui está o resultado:
Das 25 pessoas presentes, 9 eram casais, os restantes eram filhos e 17 entregaram os questionários. O tema do convívio de casais, focou mais na área de “educar pelo exemplo” e a avaliação é o somatório daquilo que a família sente, não o casal em exclusivo, porque entre as respostas está a sensibilidade dos filhos nestas questões colocadas.
Assim a área pessoal em que se verifica a necessidade de melhorar são em fazer boas perguntas em vez de acusações quando somos confrontados com algo que nos desagrada e também na melhoria da linguagem que usamos do dia-a-dia.
Na área familiar a necessidade aponta para um investimento maior na comunicação, na linguagem usada em casa e na necessidade de fazer actividades em conjunto.
Esta amostra muito simples não nos diz se as situações em que mais sentimos a necessidade de investir são geridas com mais ou menos facilidade ou se, eventualmente algum casal ou família estará a lutar, por exemplo, com sérias dificuldades nas áreas de compatibilidade de horários e afetos.
O objetivo que se deseja alcançar com estes convívios é dar a todos a oportunidade de se expressarem em diferentes questões questões da vida familiar, desenvolver relações de confiança e crescimento mútuo.
- Estás muito aborrecido/a?
- O que aconteceu?
As perguntas permitem com que a pessoa dê respostas e não se coloque na defensiva. Mostram de que deste lado há uma preocupação pela pessoa mais do que com as consequências do seu erro ou do drama que a afetou.
Um dos grandes erros na comunicação no lar é a acusação e o juízo em cima de um facto consumado. Não há forma de fazer recuar o tempo para trás, então temos de continuar a em frente e com a dificuldade que entretanto surgiu. As perguntas facilitam o diálogo em todas as situações de adversidade.
3. Linguagem apropriada.
Pode dar-se o caso de você também já não saber usar as palavras mais adequadas para comunicar.
- Você usa palavrões em casa? Deixe de os usar de todo durante todo o dia;
- Você está sempre a criticar o seu conjugue? Nunca mais o faça e troque esse comportamento por elogios;
- Você está sempre a dizer mal dos outros o tempo todo na frente dos seus filhos? Nunca mais o faça na presença deles;
- Você utiliza palavras de acusação como “teimoso”, “burro”, “incompetente”, “sensível”, e outros adjetivos com o propósito de demonstrar a superioridade dos seus valores e arrumar definitivamente o seu interlocutor, conjugue, ou filho?
A linguagem agressiva ou calma no lar irá ser determinante na forma como o seu educando irá atuar no futuro nesta área. O seu temperamento até poderá ser diferente do seu filho mas é o seu caráter que está em exposição nesse momento. Não confundamos defeito com feitio; uma coisa é a nossa estrutura temperamental, outra é a nossa deficiência no carácter. Divertido, concentrado, calmo, introvertido e extrovertido, tem a ver com temperamento; agressividade verbal, gritaria, indiferença e mau humor tem a ver com carácter.
4. Unidade
É frequente entre os pais que um se dedique mais à educação dos filhos do que o outro. Até aqui “menos mal” mas os problemas começam quando o diálogo entre os pais falha. Quando um se demite da comunicação em família está tudo estragado e pior irá ser quando um é rigoroso com algumas exigências, e o mais condescendente ou menos formado toma partido do filho desautorizando o primeiro nas diferentes instruções que são transmitidas.
Há ainda casos em que um dos conjugues não autoriza de modo algum que o outro tenha alguma palavra a dizer sobre: autorização para sair, horários a cumprir, tarefas a fazer, etc… É melhor dizer aqui, e já, que isto irá resultar num total desastre para o desenvolvimento da criança / adolescente, porque entre outras consequências, mais tarde ele/a vai dizer que o pai ou a mãe nunca se preocupou com a sua educação. Ser condescendente e permissivo não irá ajudar o educando na construção das defesas que necessita quando tiver que enfrentar as adversidades.
Para resolver esta dificuldade, o problema tem que ser corrigido no primeiro ponto deste artigo: comunicação. Uma boa comunicação na família começa pelo exemplo entre os pais.
5. Afetos.
Um beijo faz toda a diferença. Uma palavra agradável, um elogio pela manhã, é um estímulo muito saudável para elevar a motivação para enfrentar o dia. E não é preciso dar beijos forçados, basta fazê-lo à saída e à chegada.
Há pessoas que por temperamento têm muita dificuldade com os afetos físicos e com os elogios verbais sinceros. Então essa é uma área que tem de ser trabalhada na tua vida.
Haverão porventura e eventualmente traumas relacionados com toques impróprios durante a tua infância ou uma estranheza porque a infância não foi construída com esse tipo de afetos, mas isso também necessita de ser trabalhado na tua vida de forma que seja quebrado esse comportamento frio que teve origem nalgum défice no passado.
Beijar o conjugue na frente dos filhos é bonito também e um bom exemplo. Não esperes portanto uma boa receptividade para um beijo do teu filho/a se não tens esse hábito no teu dia-a-dia como exemplo.
6. Horários.
Você ainda não se esqueceu que o mote deste artigo é o exemplo, certo? Você tem horas para levantar da cama, certo? Tem horas para ir dormir, certo? Vai deitar-se com o seu conjugue, certo? E obriga os seus filhos a deitarem-se a horas decentes, certo? Ok, então podemos continuar a falar sobre isto.
Bem, ainda não falámos de detalhes no nosso próprio lar mas uma das nossas lutas é o cumprimento de horários para deitar e acordar. A maioria dos adolescentes ficam colados nas redes sociais até muito tarde porque os modems ficam ligados 24 horas. E como “os meus colegas” fazem, então eu também “tenho de fazer”. Não é assim. O que os outros fazem é o que os outros fazem, o que nós fazemos não tem que ser igual a todos os outros, e ponto assente.
Ainda, a utilização da luz do dia para fazer coisas que dizem respeito ao dia é uma boa prática pois resulta em economia de energia. A luz do sol proporciona uma economia incrível de energia eléctrica durante um ano inteiro.
Ainda, se todos os membros da família estiverem acordados nos mesmos horários, facilita a comunicação e as tarefas domésticas. Era só o que faltava, a casa não poder ser aspirada porque o menino ou a menina está a dormir até à hora de almoço.
Quando eu dirigia acampamentos de jovens tinha uma tática infalível para os pôr a dormir de noite. Depois de todos termos concordado com o programa, ainda assim, era evidente que na primeira noite era uma confusão pegada e primeiro que adormecessem lavava o seu tempo, além de que há sempre alguém que entende liderar esta desobediência dissimulada até o mais tarde que for possível. Mas, no dia seguinte, levantávamos à hora marcada coisa que também não era assim tão difícil e durante o dia impedíamos as sonecas pontuais visando especialmente aquele “líder”. O resto dos dias corria maravilhosamente. Que tal fazer na sua casa umas regras de acampamento durante as férias deles?
A questão tem contornos muito sérios. O adolescente precisa de descanso cerebral tanto quanto de desenvolvimento pessoal na sua interação familiar e social. Consentir com outro comportamento é como ter um hóspede estranho em casa a viver num hotel. Cria-se um “divórcio” no lar e o que se pode esperar como consequência são relacionamentos afetivos frustrados no futuro e patologias psíquicas associadas.
7. Dedicação de tempo
Se resolvermos a questão dos horários de funcionamento da casa já resolvemos uma boa parte do nosso problema, porém podemos fazer ainda um pouco melhor.
Que tal um fim-de-semana em família, uma saída em conjunto para passear os cães, uma visita a um museu local, a televisão desligada à hora das refeições, e um período de tempo sem telefones? Isso pode fazer toda a diferença.
8. Atividades em conjunto.
Durante um período largo da minha vida enquanto interveniente em prevenção primária de drogas, e no tempo em que ainda não havia projetor de vídeo um dos acetatos que eu gostava muito era este: “faça coisas em conjunto”.
Restantes imagens e texto aqui.
É bem sabido que a imagem apresenta uma das facetas mais dolorosas para os homens: comprar roupa. Mas não é só roupa que é preciso comprar nas rotinas de família, essa parte mais aborrecida é só de vez em quando pois há também a parte em que se vai ao supermercado e as decisões são tomadas com maior rapidez. Mas a melhor parte não é carregar as compras: é sem dúvida aquela em se está junto em família e onde a comunicação é constante. É preciso aproveitar todos os momentos para se ganhar liberdade e confiança para comunicar. Se esta habilidade que se perder então o relacionamento humano tornar-se-á um conflito muito mais doloroso que ir comprar roupa uma vez por outra.
Como é possível que um adolescente quando tem um problema, os seus amigos o saibam primeiro que os seus pais? Simplesmente porque eles estão mais expostos ao contacto com os de “fora” do que com os de “dentro”. Alguém disse: “Você não perde o seu filho fora de casa, perde-o dentro dela”.
Uma questão premente é o direito do filho/a adolescente de decidir como quer passar “o seu tempo” livre. Outra questão é, até que ponto os pais têm o direito de obrigar o seu filho/a a ir à igreja. Bem, se os pais não correspondem com algumas das dicas propostas atrás será muito difícil conseguir ter autoridade para impor que os filhos/as os acompanhem em todos os eventos que eles consideram importantes. Aliás, se o seu comportamento em casa é o de pessoa demitida de valores para lhe transmitir, não espere que em alguma igreja consiga qualquer efeito. Pode tentar e resultar, mas será muito mais difícil.
Por regra, os pais têm o dever, por razões de segurança e responsabilidade paternal, de não deixar os seus filhos menores sozinhos, logo, eles têm o direito de exigir que os seus filhos os acompanhem por onde quer que seja, desde que não seja para lugares de conduta duvidosa como exposição ao álcool, bares noturnos, discotecas etc… (já se percebeu para que serve a noite como exemplo de conduta familiar).
Os pais podem obrigar os seus filhos a acompanhá-los a um culto religioso até aos 16 anos, sendo depois dessa idade uma livre opção deles. Aquilo que observamos é que muitos dos pais que são condescendentes para obrigar um filho a ir a um culto durante o dia, são os mesmos que são incapazes de o deter para sair à noite (ou mesmo de dia), com os amigos. Deste modo, inevitavelmente, eles “amarão” mais os seus amigos que os pervertem do que os seus pais que os sustentam.
Conclusão.
Aquilo que os seus filhos vêm como exemplo na sua casa será aquilo que eles levarão para o seu futuro, para a nova família e para os filhos deles. Certamente que eles decidirão também mudar aquilo que não gostaram que lhes tivesse sido imposto, e aprenderão com o tempo que também terão que introduzir algumas mudanças como resultado das suas aprendizagens. Mas faça os possíveis para eles não levarem este pacote com eles: o seu desinteresse, a sua omissão e a sua ausência.
.....
A reunião decorreu no dia 13 de Dezembro de 2013 e enquanto decorria a partilha e discussão ponto por ponto os presentes iam preechendo um questionário de avaliação pessoal e familiar. Aqui está o resultado:
Das 25 pessoas presentes, 9 eram casais, os restantes eram filhos e 17 entregaram os questionários. O tema do convívio de casais, focou mais na área de “educar pelo exemplo” e a avaliação é o somatório daquilo que a família sente, não o casal em exclusivo, porque entre as respostas está a sensibilidade dos filhos nestas questões colocadas.
Assim a área pessoal em que se verifica a necessidade de melhorar são em fazer boas perguntas em vez de acusações quando somos confrontados com algo que nos desagrada e também na melhoria da linguagem que usamos do dia-a-dia.
Na área familiar a necessidade aponta para um investimento maior na comunicação, na linguagem usada em casa e na necessidade de fazer actividades em conjunto.
Esta amostra muito simples não nos diz se as situações em que mais sentimos a necessidade de investir são geridas com mais ou menos facilidade ou se, eventualmente algum casal ou família estará a lutar, por exemplo, com sérias dificuldades nas áreas de compatibilidade de horários e afetos.
O objetivo que se deseja alcançar com estes convívios é dar a todos a oportunidade de se expressarem em diferentes questões questões da vida familiar, desenvolver relações de confiança e crescimento mútuo.
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