sábado, 14 de setembro de 2013

Um profeta deprimido


I Reis 19:2-8 “Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, a dizer-lhe: Assim me façam os deuses, e outro tanto, se até amanhã a estas horas eu não fizer a tua vida como a de um deles. Quando ele viu isto, levantou-se e, para escapar com vida, se foi. E chegando a Berseba, que pertence a Judá, deixou ali o seu moço. Ele, porém, entrou pelo deserto caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, dizendo: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais. E deitando-se debaixo do zimbro, dormiu; e eis que um anjo o tocou, e lhe disse: Levanta-te e come. Ele olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas, e uma botija de água. Tendo comido e bebido, tornou a deitar-se. O anjo do Senhor veio segunda vez, tocou-o, e lhe disse: Levanta-te e come, porque demasiado longa te será a viagem. Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e com a força desse alimento caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus.”

Muitas vezes ficamos tão fascinados com o registo bíblico sobre homens e mulheres de Deus que acabamos por esquecer que todos eles eram humanos.

Passamos a vê-los como heróis e como tal acreditamos que eles não tinham falhas. Todavia, a Escritura mostra os homens de Deus como de facto são: fiéis, vigorosos, destemidos, corajosos e ousados – mais ainda assim humanos.

Com Elias também foi assim.

Ele foi um profeta que deixou o seu legado na história bíblica como um gigante espiritual.
Um servo de Deus de convicções profundas e consciente da sua missão profética. Por causa disso ele enfrentou:
- governantes,
- falsos profetas e
- o coração de um povo dividido.

I Reis 18:17-21 

“E sucedeu que, vendo Acabe a Elias, disse-lhe: És tu, perturbador de Israel? Respondeu Elias: Não sou eu que tenho perturbado a Israel, mas és tu e a casa de teu pai, por terdes deixado os mandamentos do Senhor, e por teres tu seguido os baalins. Agora pois manda reunir-se a mim todo o Israel no monte Carmelo, como também os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal, e os quatrocentos profetas de Asera, que comem da mesa de Jezabel. Então Acabe convocou todos os filhos de Israel, e reuniu os profetas no monte Carmelo. E Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; mas se Baal, segui-o. O povo, porém, não lhe respondeu nada.”

Confrontar políticos e religiosos é muito desgante. Isso que fez aflorar na vida do profeta todo o seu lado humano, frágil e carente da ajuda divina.

I.  UM HOMEM ABSOLUTAMENTE NORMAL.

1. Um homem espiritual.

Elias era um homem espiritual e vários factos narrados nas Escrituras atestam essa verdade. Primeiro, vemos Elias como um profeta profundamente envolvido com a Palavra de Deus: “… conforme a tua palavra fiz todas estas coisas” (I Rs 18.36). Em segundo lugar, o profeta possuía uma vida devocional intensa. Ele era um homem de oração:

“E Acabe subiu a comer e a beber; mas Elias subiu ao cume do Carmelo, e se inclinou por terra, e meteu o seu rosto entre os seus joelhos. E disse ao seu moço: Sobe agora e olha para a banda do mar. E subiu, e olhou e disse: Não há nada. Então disse ele: Torna lá sete vezes” (1 Rs 18.42,43). Elias conhecia os infinitos recursos da oração!

2. Um homem sentimental.

Elias não era apenas um homem espiritual, ele era também sentimental. O apóstolo Tiago afirma que: “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra” (Tg 5.17). 

Tiago diz duas coisas importantíssimas sobre Elias que nós parecemos esquecer:

Primeiro “Elias era homem”. Elias foi um gigante espiritual, mas era homem! Não era um anjo nem divino.

Segundo: Elias não era apenas espiritual, era também sentimental!
Alegrava-se, mas também se entristecia.

Talvez o que distingue Elias dos demais mortais é que ele não punha máscaras nos seus sentimentos. Ele deitava-os para fora.

II.  AS FRUSTRAÇÕES DE ELIAS

1. Decepção:

O capítulo 18 do primeiro Livro de Reis narra a fantástica vitória que o profeta Elias obtivera sobre os profetas de Baal. O Senhor tinha respondido á oração do seu servo, enviando fogo do céu em resposta à sua oração (I Rs 18.38).

O que Elias esperava em resposta a esse avivamento era um total quebrantamento do povo, incluindo a casa real. Todavia, o milagre extraordinário de Deus não provocou qualquer mudança, nem no povo, nem na casa real. Ao contrário, Jezabel, a mulher do rei Acabe, mandou dizer a Elias, em tom de sentença: “Assim me façam os deuses e outro tanto se decerto amanhã a estas horas não puser a tua vida como a de um deles” (I Rs 19.2).

Parece que a vitória tinha se tornado numa derrota! Por isso Elias ficou decepcionado, não com o seu Deus, mas com o Rei!

2. Medo.

Diante da ameaça de morte sentenciada pela rainha Jezabel, a reação de Elias foi imediata: “O que vendo ele, se levantou, e, para escapar com vida, se foi, e, veio a Berseba, que é de Judá, e deixou ali o seu moço” (I Reis 19.3).

Elias teve medo e fugiu! O homem que havia confrontado Acabe e os falsos profetas de Baal e Aserá, agora fugia de uma mulher!

Elias era um homem semelhante a nós e sujeito aos mesmos sentimentos. Os gigantes também possuem seus momentos de fraqueza! Não há dúvida que aqui os sentimentos falaram mais alto do que a fé mesmo depois daquela demontração poderosa de Deus no monte Carmelo.

III.  CONSEQUÊNCIAS.

1. Fuga e isolamento.

O texto sagrado destaca a fuga do profeta Elias.

I Reis 19.3. “Quando ele viu isto, levantou-se e, para escapar com vida, se foi. E chegando a Berseba, que pertence a Judá, deixou ali o seu moço.”

O homem de Deus que havia enfrentado situações tão adversas, agora vê-se impotente diante das ameaças de uma rainha pagã. Viu-se sem escapatória diante da nova situação e temeu pela sua vida.

Um aspecto curioso é que não está no texto qualquer recriminação de Deus a Elias: nós também não devemos fazê-lo. Por outro lado, Elias não apenas fugiu; ele também se isolou: “E ele se foi ao deserto” (I Rs 19.4). Esse é um indicador de uma pessoa deprimida: busca o isolamento.

3. Autopiedade e desejo de morrer.

Vemos ainda as marcas do comportamento depressivo do profeta na sua atitude de autopiedade, autocomiseração e desejo de morrer.

Elias achava que somente ele ficara como um servo fiel do Senhor: “Eu fiquei só” (I Reis 19.10) e ainda achava que todos tinham apostatado ou abandonado a fé, e que não havia mais fiéis na terra.

Mas o texto deixa claro que isso era uma visão distorcida da realidade. Deus possuía ainda seus sete mil (I Reis 19.18). Elias é o caso típico de depressão em que as pessoas perdem o encanto pela vida. Elias precisava, portanto, urgentemente da ajuda de Deus.

IV.   O PROVISÃO DIVINA

1. Provisão física.

O socorro do Senhor chegou até o profeta na forma de provisão física e material:

“E deitou-se e dormiu debaixo de um zimbro; e eis que, então um anjo o tocou e lhe disse: Levanta-te e come” (1 Reis 19.5).

Mais um indicador de depressão de Elias: a falta de apetite ou alteração dos hábitos alimentares. Neste estado, a pessoa pode não querer comer como também pode possuir um apetite exagerado. Em ambos os casos é necessário um auxílio externo. No caso do profeta, um anjo do Senhor é quem o auxilia trazendo-lhe alimento e ordenando-lhe que coma. 

“E olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas e uma botija de água; e comeu, e bebeu e tornou a deitar-se” (1 Rs 19.6).

2. Provisão espiritual.

Elias alimentou-se de pão e água – elementos de natureza material. Mas a cura de Elias só seria completa se obtivesse tratamento emocional e espiritual.

Mas não foi apenas um anjo que prestou auxilio ao profeta. O próprio Deus a quem Elias servia o guiou durante todo o tempo mesmo na sua fuga de Jezabel. A ida de Elias ao monte Horebe também fez parte dessa terapia porque ali Deus falou-lhe com uma voz suave e revitalizou a sua vida e ministério de forma a que não acabasse de forma inglória. (I Reis 19.8-15).

CONCLUSÃO

Pessoas normais, crentes fiéis e homens de Deus também "se vão abaixo". Os conflitos por vezes são tão severos que é preciso tirar um tempo para renovar as forças.

Se porventura tu estás a passar por uma situação difícil não consintas na tua vida com críticas que te abalem ainda mais. Se Deus não censurou Elias ninguém tem o direito de fazer isso contigo.


Mas lembre-se sempre que tu não estás sozinho neste mundo. O auxílio que tu precisas pode ser diversificado mas podem não ser suficientes os recursos humanos pois eles também são limitados. 


O Senhor faz-se presente nas horas mais conflituosas da nossa vida e vem em nosso auxílio se o desejarmos e pedirmos.

Lemos nos Salmos: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Salmos 46.1).

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