Ebede-Meleque entra em cena num dos momentos mais
angustiantes da história hebraica. O Reino de Israel quase não existia e o
de Judá estava prestes a ser destruído.
Por teimosia o povo entregava-se à idolatria e aos pecados mais horríveis. Os príncipes e os sacerdotes mentiam e espoliavam os pobres, e os falsos profetas desmentiam as palavras de Jeremias. Embora ele tudo fizesse para que seus compatriotas voltassem a observar a Lei de Moisés, ele recebia pelas suas profecias escárnios injúrias. Só não o mataram, porque Deus o guardou.
I. A ORIGEM DE EBEDE-MELEQUE
Acerca de Ebede-Meleque pouco sabemos. Os capítulos
38 e 39 de Jeremias dão-nos poucas informações. Sabemos apenas que ele era etíope
e eunuco. Apesar da escassez de dados Ebede-Meleque destaca-se pela sua coragem
e piedade.
1. Etíope:
Os etíopes são mencionados 21 vezes nas Sagradas
Escrituras: 20 no Velho e uma no Novo testamento. Como nação, os etíopes
posicionaram-se diversas vezes contra Israel. Individualmente, todavia,
deixaram-nos testemunhos relevantes.
Ebede-Meleque é um dos etíopes mencionados pelo nome
nas Sagradas Escrituras (Jr 38.7). Não se sabe quando ele chegou a Judá mas talvez
tenha sido comprado pela corte real, pois o comércio de escravos era muito
comum na antiguidade. Como se vê, a origem de Ebede-Meleque era humilde. Mas que
importa? Deus usa as coisas que não são, para confundir as que são (I Coríntios
1.27).
Ebede-Meleque deixou um exemplo de coragem tão brilhante
que jamais será esquecido. Não importam as nossas origens ou a tradição de
nossa família pois para Deus o que conta mesmo é a disposição com que nos
colocamos ao seu serviço.
2. Eunuco:
Ebede-Meleque era eunuco (Jr 38.7). Isto é, ele era um
homem privado de sua virilidade. Segundo o próprio Cristo explicou, há três
espécies de eunucos:
(Mateus 19.12).
- os que já nascem assim,
- os que foram castrados pelos homens,
- e os que se “castram” a si mesmos por causa do reino dos Céus.
(Mateus 19.12).
Não sabemos em que categoria se enquadrava
Ebede-Meleque mas de qualquer forma ele sofria muitas restrições. Por exemplo
ele não podia entrar no santuário de Deus (Dt 23.1).
Não podia portanto exercer um sacerdócio. Apesar de
tudo, este virtuoso etíope temia a Deus e naquele momento tão difícil da nação
hebraica, professou de forma abnegada uma irresoluta confiança em Deus.
II. O MINISTÉRIO DE EBEDE-MELEQUE
Em hebraico, Ebede-Meleque significa “servo do rei”.
Do texto bíblico, entretanto, depreendemos que o
etíope era antes de mais nada, um fiel e dedicado servo de Deus. Só um fiel
servo de Deus exerceria com tanta dedicação a sua função na corte real: onde as
intrigas eram semeadas do nascer ao pôr-do-sol; onde a injustiça campeava e a
corrupção tornava-se tão comum; onde o nome de Deus era profanado e a sua Lei,
vilipendiada.
1. Servo do rei.
A Bíblia não diz há quantos anos Ebede-Meleque servia ao
infeliz Rei Zedequias. Mas levando-se em conta a intimidade que o etíope
desfrutava junto ao rei podemos supor que ele se encontrava ao serviço da corte
há muito tempo.
Como se conclui depressa ele tinha sido despojado da
sua nacionalidade e do seu verdadeiro nome. Naquele tempo, os reis costumavam mudar
os nomes de seus cativos para que fossem cortados todos os elos entre estes e
seus países de origem como aconteceu com Daniel e os seus amigos. (Daniel 1:6,7).
E por falar nisto, vezes sem conta, os não-crentes ímpios
tentam cortar os laços que nos prendem á igreja.
2. Servo de Deus.
Ebede-Meleque mantinha sua fé em Deus apesar do
péssimo testemunho da casa real e do desvario generalizado do povo hebreu. A sua
fé era sólida. Enquanto os judeus se inclinavam diante dos falsos deuses, o
virtuoso etíope adorava o único e verdadeiro Senhor. Por isso, ele pode ser
considerado, antes de mais nada, um servo do Deus de Abraão. Então temos: um
estrangeiro adorador do Deus verdadeiro e um povo de Deus adorador de deuses
falsos.
E foi como servidor de Jeová que se expôs e
intercedeu pelo encarcerado Jeremias. Não nos esqueçamos portanto das nossas
responsabilidades: antes de sermos servos dos homens, somos servos de Deus e
agindo fielmente, receberemos os nossos galardões.
III. EBEDE-MELEQUE
SALVA A VIDA DE JEREMIAS
O profeta foi lançado no calabouço porque suas
palavras desagradaram à classe dominante. Enquanto os falsos profetas
anunciavam promessas fáceis de paz e prosperidade, ele apregoava a palavra de
Deus:
“O que ficar
nesta cidade morrerá à espada, à fome e de pestilência; mas o que for para os
caldeus viverá; porque a sua lama lhe será por despojo, e viverá. Assim diz o
Senhor: Esta cidade infalivelmente será entregue na mão do exército do rei de
Babilônia, e ele a tomará” (Jr
38.2,3).
Com a displicência de Zedequias que reinava nessa
altura, pois não tinha qualquer autoridade sobre os seus súbditos, os príncipes
prenderam o profeta
“e o
lançaram no calabouço de Malquias... mas no calabouço não havia água, senão
lama, e atolou-se Jeremias na lama”
(Jr 38.6).
A notícia da prisão do profeta chegou aos ouvidos do
etíope que imediatamente resolveu intervir para salvar-lhe a vida. Que corajosa
decisão!
Jeremias 38.7.
Em primeiro lugar, Ebede-Meleque expôs-se a ser
apanhado pelos mesmos malfeitores. Ele estava decerto consciente de que a sua
intervenção em favor do profeta poderia acarretar-lhe sérios problemas.
Mas não temeu os riscos, Sabia que estava a agir corretamente.
E quantas vezes nós não nos "acovardamos" temendo perder posições, empregos, e
calamo-nos?
Em segundo lugar, usou a sua influência junto ao
trono para promover a libertação de Jeremias. Como seria bom se o exemplo deste
africano fosse seguido com mais frequência nos nossos dias?
Na verdade ele pode ter exposto a sua vida em risco duas vezes: aos malfeitores e ao próprio rei por ter cometido o atrevimento de lhe fazer um pedido. Ele era escravo, lembremo-nos.
Na verdade ele pode ter exposto a sua vida em risco duas vezes: aos malfeitores e ao próprio rei por ter cometido o atrevimento de lhe fazer um pedido. Ele era escravo, lembremo-nos.
Ebede-Meleque salva a vida de Jeremias:
Perante a exposição do eunuco, Zedequias resolveu
ajudar o profeta e atendendo à solicitação de Ebede-Meleque o Rei concedeu-lhe
30 homens para ajuda-lo a resgatar o profeta. (Um indicador interessante de como
a situação era realmente delicada e denuncia a falta de autoridade do rei.)
“E tomou
Ebede-Meleque os homens consigo, e foi à casa do rei, por debaixo da
tesouraria, e tomou dali uns trapos velhos e rotos, e roupas velhas em bocados,
e desceu-os a Jeremias no calabouço por meio de cordas... e puxaram a Jeremias
com as cordas, e o tiraram do calabouço; e ficou Jeremias no átrio da guarda” (Jr 38.11-13).
Assim, a vida de Jeremias foi preservada. Que o
Senhor nos ajude a agir como Ebede-Meleque com coragem e determinação. Deus não
nos deu um espírito de covardia! O nosso espírito é de fortaleza, de amor e de
moderação (II Tm 1.5).
IV. O
GALARDÃO DE EBEDE-MELEQUE
Quando a destruição de Jerusalém estava próxima o Senhor
ordenou a Jeremias que entregasse a seguinte mensagem a Ebede-Meleque:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel;
Eis que eu trarei as minhas palavras sobre esta cidade para mal e não para bem;
e se cumprirão diante de ti naquele dia. A ti, porém, eu livrarei naquele dia,
diz o Senhor, e não serás entregue na mão dos homens perante cuja face tu
temes. Porque certamente te salvarei, e não cairás à espada, mas a tua alma
terás por despojo; porquanto confiaste em mim, diz o Senhor” (Jr 39.16-18).
No ano 587
a .C., Nabucodonosor entrou em Judá, destruiu o santo
templo e levou milhares de cativos à Babilônia. Houve mortes e destruição.
Ebede-Meleque, no entanto, nada sofreu. O Senhor dos Exércitos preservou-lhe a
vida.
Se andarmos segundo a vontade de Deus, nada sofreremos
também. Portanto, vamos agir de acordo com a Palavra de Deus pois no devido
tempo, teremos o nosso galardão.
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