sábado, 21 de outubro de 2017

Atitudes defensivas

Uma atitude defensiva é uma reação verbal que resulta do nosso estado emocional ou da memória do nosso passado histórico.

A atitude defensiva também pode manifestar-se numa retirada estratégica do local, ficar em silêncio, tentar mudar de assunto fingindo que não percebeu o ataque, (se é que realmente houve um ataque, o que pode nem ter acontecido).


Porque, em algumas situações na nossa vida, como início de um simples passeio, ajudar na cozinha, entrar em casa, tentar ter uma conversa normal, se transforma numa autêntica batalha campal que dura até ao dia seguinte?

Porque… todos nós temos de lidar com MONSTROS EMOCIONAIS. Eles “andem aí” escondidos, à espera da oportunidade certa para atacar.

A boa notícia desta tarde: 

PODEMOS COMPREENDER AS NOSSAS REAÇÕES DEFENSIVAS se…

- Aprendermos a identificá-las.
- Tivermos coragem para enfrentar os "monstros".
- o nosso nível de comunicação (conjugal) estiver no nível máximo.

Causas das atitudes defensivas.

O título do tema: “atitudes defensivas”... Defender significa proteger e para isso é preciso fazer oposição. Com a atitude de defesa há uma nova dificuldade que se instala: a dificuldade de comunicação.

Por exemplo:
O Silvestre está quase a sair de casa…
- A tua gravata está torta - diz a Tina.
- E qual é a outra boa notícia que tens para me dar hoje?
… (silêncio) A Tina reflete um pouco e responde:
- Eu só estava a querer ajudar...
- Não sei como viveria se não estivesse casado contigo!
Se eventualmente este marido não é apenas um calhau bronco e insensível o que pode ter-se passado para que ele soltasse o seu comportamento defensivo?

Antes da resposta: Uma reação defensiva é sempre uma barreira à unidade conjugal e causa distanciamento. Nenhum de nós deseja barreiras no nossa relacionamento mas por vezes sentimo-nos impotentes para ultrapassá-las e impedi-las.

Mas afinal o que pode despoletar um comportamento defensivo?

1. Um problema de auto-estima.

O problema mais comum é que a nossa auto-estima é afetada por certos comentários que nos fazem.

Recentemente apanhei dois passageiros em Lisboa, com a UBER, e um claro problema de desentendimento na comunicação fez o passageiro entender que eu não percebia nada de Lisboa. Nem imaginam como ele estava feliz ao levar-me pela rua onde eu tinha nascido e a informar-me onde era o largo do Martim Moniz. É evidente que isso mexeu na minha auto-estima ao consentir que um brasileiro, sim um BRASILEIRO, me ensinasse sobre a minha cidade. Só a consciência de saber que provavelmente nunca mais o veria nesta vida me refreou o comportamento defensivo. Mas, como é quando temos que lidar diariamente com um cônjuge que sem querer toca naquele nervo dentro do dente que nos faz saltar da cadeira ou deitar fumo por tudo quanto é poro do nosso corpo?

Conclusão do caso da gravata. Situações de reparos contínuos no passado sobre o que vestimos podem ter causado um comportamento de defesa.

Pode também ter acontecido que O Silvestre estava irritado por se ter demorado a encontrar aquela bendita gravata; pode também ter tido dificuldade a escolher a gravata; a esposa poderia não ter ainda passado a ferro aquela camisa que condizia com aquela gravata; pode não saber dar bem o nó na gravata; pode não saber se os colegas vão levar gravata ou não… e naquele momento a mulher ainda lhe diz que a gravata está torta…! Por amor da… santa… paciência.

Outro exemplo:

Enquanto o João cortava as cebolas a Madalena punha o azeite na frigideira. O João sai para ir fazer xi…, lavar a cara por causa da cebola e de imediato a Madalena despeja tudo para dentro da frigideira.
O João chega e:
- Havia uma maneira melhor de fazer isso.
- Porque tens sempre que querer mandar em tudo?
João (em silêncio)…. 1…2…3……………10:
- Eu só queria dar uma sugestão. Sabes que esse prato é a minha especialidade.
- Então faz sozinho a tua comida especial!

Bom, o João na verdade só queria que o azeite aquecesse um pouco primeiro.

O que aconteceu aqui? O João simplesmente tocou num ponto nevrálgico da Madalena. O pai do João era Chefe de cozinha no Meridien e a Madalena não teve oportunidade de aprender a cozinhar tão bem como ele antes de casar. Portanto, um pequeno fator ligado apenas ao passado de um deles foi o suficiente para haver fogo na cozinha.

Áreas emocionais estão diretamente ligadas à nossa auto-estima e estão também ligadas ao nosso passado histórico.

Vou pela primeira vez fazer aqui uma confissão. Quando casámos, (segundo casamento como todos sabem), eu e a Susana decidimos que não íamos ter filhos comuns e aproveitar a vida, servindo a Deus, a Igreja e os outros, etc… Quando ficamos com o Fluffy, o cachorro que nasceu cá em casa, ela chamava-o “meu bebé”. “Meu bebé pra cá”, “meu bebé pra lá”, “piti…”, “piti…”, “piti…”. Vocês acreditam que isso mexia comigo?

Outro exemplo:

O casal Agrela sai para férias. Logo após a primeira curva ao sair de casa a Andreia diz:
- O limite de velocidade é 90Km/h.
O Fernando pára o carro repentinamente e diz:
- Ok, salta tu para o volante que eu não quero passar o resto das férias a ouvir como tenho de conduzir!
- Não, tu conduzes.
- Não, conduzes tu. Ok, mas eu conduzo e tu ficas de boca calada.
Ainda sem estar satisfeito com a boca que ficou calada o Fernando ainda acrescenta:
- Não percebo porque as nossas férias têm que começar sempre da mesma maneira.

O que é que aconteceu aqui que provocou uma reação tão violenta?

O pai do Fernando criticava-o muito quando ele era jovem e por causa disso ele chumbou duas vezes no código, três vezes na condução, já tinha tido dois acidentes e algumas multas por ter passado o STOP sem parar! A Andreia apenas queria umas férias sem multas, apenas isso.

Conclusão. Muitas vezes não sabemos o que está por detrás dos nossos comportamentos defensivos. Porventura o próprio não sabe ou não se lembra e pior ainda, o cônjuge ainda tem menos probabilidades de identificar a origem do comportamento defensivo que resultou naquele ataque inesperado.

Não apenas o nosso desenvolvimento na infância pode ter deixado marcas mas também eventualmente outras pessoas na nossa fase adulta, colegas, ex-cônjuge. E não há nada que possamos fazer contra estes monstros emocionais a não ser identificá-los, aprender com eles e anulá-los.

Mas afinal o que também pode despoletar um comportamento defensivo?

1. Um problema de auto-estima.
2. Conflitos não resolvidos.

Conflitos não resolvidos:

Uma boa comunicação é a chave para resolver situações do nosso passado histórico e evitar novos episódios que irão residir na nossa memória afetando a nossa vida a um prazo ainda mais curto, e que pode ser já amanhã.

A questão é: ou resolves o conflito, o do passado e o recente, ou dentro de pouco tempo o assunto vem à tona com uma nova estratégia (verbal) defensiva. E desta vez pode vir com frases preparadas por antecipação, o que piora tudo, e bastante.

Culpa.

Neste ponto entra um nosso personagem no conflito de defesa vs ataque: a culpa. Um ou os dois sentem algum remorsos porque foram infelizes no que disseram e porque afinal ele/ela não tem culpa nenhuma para que eu lhe falasse “daquela maneira”.

E agora? Pedes desculpa ou ficas em silêncio? Ganhas o teu cônjuge de volta ou manténs o teu orgulho porque afinal noutras ocasiões até tinhas razão?

ATENÇÃO: Conflitos resolvem-se um a um e não todos de uma vez!

Conflitos não resolvidos levam-nos a pensar que casámos com a pessoa errada, somos incompatíveis, que o melhor é o… etc…, etc…

Mas afinal o que, finalmente, também pode despoletar um comportamento defensivo?

1. Um problema de auto-estima.
2. Conflitos não resolvidos.
3. Privação física.

Privação física.

Quando estamos a falar de privação física estamos a falar de… (pausa para a imaginação)

... Falta de dormir, falta de descanso, falta de alimentação adequada, pressão no trabalho, problemas com os filhos, problemas com os pais, excesso de stress.

Sem darmos conta, há fatores que afetam a nossa tolerância, humor, boa disposição e até mesmo a capacidade de interpretar uma ironia ou uma piada.

Para resolver isto, nada melhor que parar um pouco, tirar uma noite para dormir sem despertador a acordar cedo na manhã seguinte, ir a um convívio de casais, ir ao ECC, etc…

TRÊS REAÇÕES TIPICAMENTE DEFENSIVAS

1. Retaliação verbal.

A forma mais comum é a retaliação verbal. Atacar com palavras. O comportamento defensivo envolve dois fatores: proteger e resistir. Protegemos o nosso amor-próprio e fazemos frente a quem nos quiser invadir nessa área.

A retaliação verbal aponta para estes dois elementos.

Exemplo:

O Carlos e a Mena acordaram que o jardim e acender a lareira ficaria aos cuidados dele. O alpendre, a cozinha, as casas de banho, os cães, os pássaros, o corredor e a sala ficariam com ela...

Um belo dia ao entardecer o Carlos chega a casa e vê a sebe toda bem cortada e aparada. Assim que a Mena lhe abre a porta da rua ele diz:
- Quer dizer que não poderias esperar que eu chegasse… Porque tudo tem sempre de ser feito da maneira que tu queres? Também vais querer cortar a relva?
- Boa tarde querido…, para ti também.

O que foi que se passou afinal? A Mena simplesmente tinha estado a ler a Bíblia naquela parte que diz “Fazei aos outros aquilo que vos quereis que vos façam”, e pensando numa maneira de agradar ao Carlos, lembrou-se simplesmente de pegar na máquina de poda para depois o receber com um belo jantar e uma noite fogosa de sexo junto à lareira.

Repara nestes elementos: proteção e resistência. Na sua cabeça, o Carlos protege-se de ser considerado um inapto para cuidar da parte que lhe compete na casa e logo antecipa um ataque para prevenir que a Mena também corte a relva. Para completar a história o Carlos fica todo baralhado porque a lareira está acesa e a mesa está posta com duas velas acesas…

Portanto, ou resolves isto ou tens a noite estragada.

Para crentes, (crentes a sério mesmo) já que citámos a Bíblia, o episódio seria prevenido assim:

“Não retribuem a ninguem mal por mal”. Romanos 12:17
“Nunca procurem vingar-se”. Romanos 12:19
“O tolo dá vazão à sua ira, mas o sábio domina-se” Provérbios 29:11
“É uma honra dar fim a contendas, mas todos os insensatos envolvem-se nelas”. Provérbios 20:3

Também as Escrituras confirmam que a retaliação verbal destrói a unidade conjugal.

2. Retraimento.

O retraimento é o oposto da retaliação verbal. O cônjuge atacado pelas garras do defensor imprevisível fica magoado e esconde a sua tristeza sofrendo internamente a injustiça de que foi alvo. Enfurecido, distancia-se.

O que é preferível? Ripostar ou ficar calado?

Mas o que acontece é que esta não é a primeira vez que as emoções são reprimidas, nem a segunda, nem a terceira… e o saco vai enchendo. A seguir vêm as dores de cabeça, as dores nas costas, as náuseas, a falta de apetite, a obesidade, a falta de dormir… e por aí fora. E onde está a causa? Nas emoções reprimidas e por não ter um cônjuge à altura e competente para comunicar no nível 5 – com honestidade.

Nível 1 – Bom dia
Nível 2 – Só factos
Nível 3 – Dou opinião
Nível 4 – Digo o que sinto
Nível 5 – Sou honesto.

(Consulte este tema aqui.)

Jesus também disse: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai e, a sós com ele, mostra-lhe o erro.” Mateus 18:15. Paulo em Efésios disse: “Livrem-se de toda a amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda a maldade”.

3. Falar por intermédio dos filhos

- Sabes o que a tua mãe fez?

É evidente que este filho irá afastar-se emocionalmente do pai pois a sua inocência levá-lo-á a ter compaixão da mãe, entre outras probabilidades comportamentais igualmente desadequadas para o seu desenvolvimento pessoal.

Este pai tenta construir a sua auto-estima á custa da humilhação da sua esposa. Estamos portanto num extremo da atitude defensiva que apenas leva à destruição e isolamento do próprio.

Conclusão.

Na próxima oportunidade fala com o teu cônjuge sobre as vezes que no vosso relacionamento houve comportamentos defensivos que prejudicaram a vossa harmonia. De seguida prepara um jantar romântico. Mas certifica-te que não vai acontecer como neste exemplo:

O marido entra porta a dentro com o extracto bancário na mão e a berrar mais ou menos isto:
- Se não paras de gastar dinheiro em luxos ainda vamos ter que ir viver para debaixo da ponte…!
Se ele entrar assim, fecha de imediato a porta da sala para que ele não veja o camarão, o vinho verde e as velas acesas!

Perguntas para dinâmica:

Costumas ter comportamentos defensivos com requinte de ataque?
O teu cônjuge costuma atacar-te com indiretas?
Respondes aos ataques?
Ficas em silêncio?
És capaz de identificar coisas no teu passado que hoje te levam a ter comportamentos defensivos?


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Inspirado no livro "Agora você está falando a minha linguagem" de gar Chapman, Editora Mundo Cristão. O texto acima não contém excertos do livro mas mantém a estrutura do capítulo "Porque eu fico na defensiva".
Este tema foi apresentado em Azeitão com a presença de 10 casais.

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