Há raposas que querem tanto o queijo que acabam por consegui-lo
com a sua lábia ardilosa. Há outras que não conseguindo alcançar as uvas adoptam
uma atitude de desprezo. O que ambas têm em comum é a mentira.
É evidente que eu não espero que o carácter dos políticos do
meu país seja melhor amanhã do que o é hoje. Porém, eu não me lembro de uma campanha eleitoral em que o tema “mentira” ocupasse tanto tempo dos
discursos de campanha eleitoral, isto pela informação que me chega, porque para
comícios não tenho pachorra.
Sejamos coerentes, nós pelo menos: os políticos mentem! E mentem porquê?
- Eles mentem por são honestos, ou seja, tal como os viciados em tóxicos, eles realmente querem melhorar a vida de alguém, mas não conseguem;
- Eles mentem porque são verdadeiros, ou seja, acreditam que podem cumprir as promessas que fazem, mas as clientelas aparecem e comem a maior parte do queijo;
- Eles mentem porque são rigorosos, ou seja, a Lei, o Orçamento, a Constituição e nada mais do que isso, condicionantes que foram eles que criaram para beneficiar uma minoria.
Como cidadão eleitor já fui enganado várias vezes. Sempre cumpri com o meu dever, excepto por duas vezes: uma estava no mar, Marinha de Guerra, e outra nos Açores. A partir de certa altura passei a fazer os riscos fora do quadrado, assumo. Desta vez, a minha consciência é confrontada com tanta imbecilidade que terei que mudar de comportamento. Não votarei por acreditar que um partido ou ideologia seja mais eficaz que o outro mas porque neste momento parece-me que um deles é mais ameaçador para o meu país do que o seu oponente.
Quem está no governo está na posse de elementos mais concretos sobre a situação do país e quem está na oposição não tem acesso a todos os dossiês. Quem está na oposição tem a vantagem de conquistar todos os descontentes e quem está no governo tem a vantagem de arvorar a bandeira da estabilidade.
É por isso que essas matérias de propaganda do rigor e da
verdade só convencem os que vestiram sempre a mesma camisola. Parece-me portanto que terei que escolher entre aquele que eu penso que mente
menos.
E cuidado com as raposas, as que querem os queijos e as que desprezam as
uvas.
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