Há pessoas que acham que o mal é sempre dos outros. Jean Paul Satre e Jesus Cristo não podem ser mais antagónicos, por muita defesa que o filósofo possa oferecer. A sociedade oferece-nos duas possibilidades: “O inferno são os outros”, culpar os outros, ou assumirmos nós próprios a nossa responsabilidade, “não julgueis, para que não sejais julgados”.
Jesus: “Tira a trave que está no teu olho” Não nos podemos desculpar com as pessoas. Precisamos de encontrar mecanismos que facilitem a nossa convivência uns com os outros.
Há também os que “Eu nasci assim, sempre fui assim, sou assim, se casas-te comigo é porque gostas de mim assim... “. São os que se acham “obra acabada”, ou “se não gostas não comas”.
Certas pessoas quando o relacionamento se torna desconfortável trocam de par. Não querem mudar, fartam-se e procuram novas satisfações e novidades, até que se cansam outra vez. Não param para perguntar: O que é que eu posso mudar? Ao invés de procurarem uma mudança neles próprios, queixam-se: “ela(e) é sempre a mesma coisa”... Realmente não existe par perfeito. Não existe relacionamento perfeito. Apenas existe convivência perfeita.
O ideal não é procurar o par perfeito, o relacionamento perfeito, mas sim fazer o que for preciso para viver um melhor relacionamento com o parceiro.
I. Usufruir
“Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne.” Genesis 2:24
Exemplo de como se pode estraga um casamento:
- Um homem e uma mulher reais são um;
- Um homem e uma mulher ideal são três;
- Um homem ideal e uma mulher ideal são quatro.
Perdemos demasiado quando não convivemos com o que somos. É melhor usufruir do que se tem muito mais do ter o que se deseja.
Exemplo de como se estraga um relacionamento na família:
“Num dos nossos aniversários de casamento levámos os nossos filhos para jantar e celebrar a data connosco. À mesa, sugeri um exercício do tipo “o que celebro contigo” e “o que gostaria de ver mudado em ti”. Estávamos quase a terminar o jantar e a sobremesa estava repleta de bolos de chocolates sortidos. Enquanto cada um de nós falava, o meu filho Victor, pegou uma trufa e começou a comer vagarosamente, lambuzando todos os dedos, pegou no guardanapo e limpou as mãos.
Ao chegar a sua vez de dizer o que gostaria de ver mudado em mim disse que gostaria que eu fosse menos exigente e menos stressado. Pedi detalhes e ele, àquela altura com a ajuda incisiva da irmã, Fernanda, explicou que eu ficava muito irritado com coisas pequenas e que isso atrapalhava bastante o bom humor e a leveza da nossa convivência familiar. Não me dei por satisfeito e pedi um exemplo. Ele olhou bem nos meus olhos e disse: Por exemplo, agora mesmo, sei que o Pai detestou o que eu fiz com a trufa, mas eu fiz de propósito. Sei que você se controlou muito para não me repreender e fazer um discurso a respeito de boas maneiras à mesa. Mas convenhamos que comer uma trufa de chocolate e lamber os dedos é uma delícia. Você poderia dizer que isso poderia ser feito em casa e não em público. Mas hoje é uma data muito feliz para a nossa família e estamos celebrando a nossa alegria, por isso eu não quis privar-me desse prazer.
Naquele dia, descobri que o meu filho já não era mais uma criança e eu tive mais uma indicação de que eu ainda não era um homem."
... A razão de exigirmos que as pessoas sejam, ou se tornem, naquilo que queremos está mais associado à opinião dos outros a nosso respeito. Muitas vezes exigimos demais das pessoas que amamos por causa das pessoas que não nos amam.
Exigimos excessivamente dos outros e não usufruímos por isso do prazer da sua presença. É altura para perguntar se há aqui alguém que não gosta de estar com alguém por causa disto ou por causa daquilo.
II. Servir.
João 13:1-17
As únicas pessoas com quem nos podemos relacionar bem são aquelas a quem conseguimos lavar os pés.
Note que:
Só podemos nos relacionar com excelência com aqueles que estamos dispostos a servir;
Os nossos relacionamentos serão mais saudáveis se houver dedicação da nossa parte;
A nossa vida será saudável se nos relacionarmos com pessoas saudáveis;A nossa vida será tanto mais saudável quanto mais saudáveis forem também os nossos relacionamentos.
Lavar os pés é um ato humilde, quem lava tem que se curvar e a boa vontade da outra pessoa é posta à prova.
A palavra de Deus aconselha:
“Melhor é serem dois porque se um cair, o outro ajudará a levantar”.
“Devemos levar os fardos uns dos outros.”
“Servir” aplica-se também a ter paciência com alguém até que termine a provocação.
O serviço despedaça:
- A ambição egoísta;
- O orgulho;
- O egocentrismo.
Algumas definições importantes:
1. Ambição egoísta: atitude daquele que faz tudo motivado por interesses pessoais, conveniência, segundas intenções, que “não dá ponto sem nó”;
2. Orgulho: exagerado conceito de sim próprio, natural naqueles que nada vêem, vivem sempre a apontar defeitos nos outros, recusam-se a admitir que têm imperfeições e dar passos em direcção às reparações.
3. Egocentrismo: a necessidade de estar sempre no centro das atenções, não dá espaço para que os outros se sintam bem, está sempre insatisfeito.
- Servir é estar disponível para fazer o que precisa de ser feito. Quem desenvolve um bom relacionamento com o seu irmão não tem problema em “incomodar”, como é muitas vezes o caso de muitos de nós.
- Servir, porém, não é andar a apanhar o que os outros podem evitar deixar que fique desarrumado, isso é escravidão.
III. Perdoar
Mateus 18:21-35
Normalmente associamos o mandamento “Não matarás” a assassínio, aborto, suicídio. Mas “não matarás” é mais do que isso. Não matarás é igual a não negar aos outros o direito de existir na tua vida, ou, "não negarás perdão". Perdoar é dar oportunidade ao outro de continuar a existir nas nossas vidas.
Pedro perguntou a Jesus: Quantas vezes perdoarei? Recebeu de volta: Setenta vezes sete!
Na parábola de Jesus aprendemos três coisas:
Já que a reparação era impossível o credor abriu mão do que era dele disponibilizando perdão. Se não pode alterar o passado então o melhor é perdoar e drenar a raiva do seu coração;
O perdão visou preservar a dignidade do ofendido. Diz Jesus que o credor chamou todos (v.23) os que lhe deviam querendo acertar contas com eles. Quis resolver os problemas para preservar os relacionamentos e não permitir que a convivência se mantivesse insustentável;
O perdão não é unilateral, pode ser cancelado se o transgressor persiste na sua ofensa.
Portanto:
Deus não perdoa incondicionalmente todo o mundo. À luz da oração do “Pai Nosso” Deus perdoa a quem perdoa.
O perdão visou preservar a dignidade do ofendido. Diz Jesus que o credor chamou todos (v.23) os que lhe deviam querendo acertar contas com eles. Quis resolver os problemas para preservar os relacionamentos e não permitir que a convivência se mantivesse insustentável;
O perdão não é unilateral, pode ser cancelado se o transgressor persiste na sua ofensa.
Portanto:
- O credor, em nome da preservação da vida, tem o direito e o dever de exigir a reparação do dano;
- O credor não pode matar, queixando-se eternamente de quem lhe deve, mas deve fazer um esforço para alcançar a paz, reavendo o que lhe pertence ou concedendo perdão, em nome da sã convivência e da restauração do relacionamento;
- A opção do perdão, tem que ser à vista do ofensor, presencialmente, não à distância. O perdão visa restaurar a dignidade do ofendido, o relacionamento com o ofensor e interromper o ciclo de hostilidades.
Deus não perdoa incondicionalmente todo o mundo. À luz da oração do “Pai Nosso” Deus perdoa a quem perdoa.
Sem comentários:
Enviar um comentário