sábado, 12 de outubro de 2013

O vidente ambíguo


Com o avanço dos hebreus os moabitas e os midianitas uniram forças contra o inimigo comum. Como já sabiam das anteriores vitórias do povo de Israel, concluiram que apenas lhes poderiam ganhar se travassem uma batalha na esfera espiritual, e por conhecerem a fama e o prestígio de Balaão, chamaram-no.
Embora Balaão desempenhasse o papel de verdadeiro profeta ao abençoar Israel, antes de sair de cena, ele revela-se como uma figura repugnante que tenta provocar a ruína dos hebreus. Balaão revela-se um profeta ambíguo e emocionalmente descontrolado, modelo e figura de muitos que apesar de saberem dizer as verdades bíblicas na verdade têm o seu coração nas recompensas terrenas e com isso causam imensos estragos no povo de Deus.

Números 22-24

I. Quem era Balaão.

Balaão vivia em Petor, cidade da mesopotâmia que pertencia aos midianitas. Era conhecedor do Deus criador dos céus e da terra e parece que sabia que Jeová era O Deus mais poderoso entre todos os deuses da terra. Balaão não era o único pagão com este conhecimento pois anos mais tarde foi dessa região que uns Magos saíram para adorar o Reis dos Reis. O lugar é também o mesmo onde Jacó foi buscar a sua esposa e onde foi enganado por Labão, portanto, da terra natal de Abraão. Ele sabia de antemão de que povo se tratava.

Balaão dispunha de credibilidade mesmo junto de povos distantes e uma acessibilidade a Deus muito acima da média. Ele tinha uma sensibilidade básica: ele conhecia a voz de Deus e não era um leigo em assuntos espirituais. Foi instruído por Deus para que não amaldiçoasse o povo hebreu e depois da segunda insistência de Balaque pôs-se a caminho.

Balaão foi forçado por Deus a abençoar os Israelitas e, assim, frustrar a tentativa Balaque para os deter, sendo absoluto que este episódio em nada alteraria os planos de Deus, pois o povo já estava abençoado desde Abraão.

Números 23:19-21 
“Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele dito, não o fará? ou, havendo falado, não o cumprirá? Eis que recebi mandado de abençoar; pois ele tem abençoado, e eu não o posso revogar. Não se observa iniquidade em Jacó, nem se vê maldade em Israel; o Senhor seu Deus é com ele, no meio dele se ouve a aclamação dum rei;”

II. As motivações de Balaão.

1. Riquezas.

O rei de Moabe ofereceu uma proposta tentadora: um pagamento excepcional para proferir uma maldição e assim impedir o progresso do povo de Israel (como se isso fosse possível).
Diante da recusa do profeta, Balaque enviou outros líderes, em maior número e ainda mais importantes que os anteriores. Inquieto com o convite, o vidente quis “pensar mais no assunto” e então Deus deu-lhe liberdade para ir, embora lhe vedasse qualquer possibilidade de atender ao desejo de Balaque. Deus permitiu mas não gostou.

Aqui percebemos que quem tem prestigio fica mais vulnerável a ser aliciado com propostas que o corrompam. Depois de ter recusado a primeira proposta, vacilou de seguida quando a oferta foi ainda maior.
- Há uma grande diferença entre conhecer a Deus e fazer a sua vontade;
- Há uma grande diferença entre amar a Deus e ser-lhe submisso em todas as coisas.
Então, montado na sua jumenta o profeta iniciou a viagem. De repente, o Anjo do Senhor pôs-se na frente dele no caminho, para lhe barrar a passagem e assim mostrar-lhe o seu grande desagrado por este empreendimento.
A narrativa de Números cap. 22 a 24 não dá a entender que Balaão tenha sido responsável por causar alguma perturbação e pecado do povo de Israel.

2. Promiscuidade.

Noutras referências bíblicas nós podemos ver o rasto de ambiguidade com que Balaão atuava com Balaque. Sabendo Balaão que o povo de Israel não poderia ser derrotado pela força da guerra, fosse ela humana ou espiritual, então insinuou que com infiltrações no meio do povo e introdução de outros deuses eles poderiam derrotados.

Textos bíblicos que nos demonstram isso:

Números 31:16 “Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão, fizeram que os filhos de Israel pecassem contra o Senhor no caso de Peor, pelo que houve a praga entre a congregação do Senhor.”

Deuteronómio 23:4-5 “porquanto não saíram com pão e água a receber-vos no caminho, quando saíeis do Egito; e, porquanto alugaram contra ti a Balaão, filho de Beor, de Petor, da Mesopotâmia, para te amaldiçoar. Contudo o Senhor teu Deus não quis ouvir a Balaão, antes trocou-te a maldição em bênção; porquanto o Senhor teu Deus te amava.”

II Pedro 2:14-16 “tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecar; engodando as almas inconstantes, tendo um coração exercitado na ganância, filhos de maldição;
os quais, deixando o caminho direito, desviaram-se, tendo seguido o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça, mas que foi repreendido pela sua própria transgressão: um mudo jumento, falando com voz humana, impediu a loucura do profeta.”

Judas 1:11 “Ai deles! porque foram pelo caminho de Caim, e por amor do lucro se atiraram ao erro de Balaão, e pereceram na rebelião de Coré.”

Apocalipse 2:14 “entretanto, algumas coisas tenho contra ti; porque tens aí os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, introduzindo-os a comerem das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem.”

III. O confronto de Balaão com o Anjo do Senhor.

1. Quando a jumenta viu o Anjo parado e com a espada na mão, saiu da estrada e foi para o campo. Então, Balaão bateu no animal e o trouxe de novo para a estrada;
2. Depois, o Anjo do Senhor ficou numa parte estreita do caminho, entre duas plantações de uvas, onde havia um muro de pedra de cada lado. Quando a jumenta viu o Anjo, ela se encostou ao muro, apertando o pé de Balaão e irritado, o homem tornou a espancar o animal;
3. Ainda, o Anjo do Senhor foi adiante e ficou num lugar mais estreito ainda, onde não havia forma de ele se desviar nem para a direita nem para a esquerda. A jumenta viu o Anjo e deitou-se no chão. Balaão ficou ainda mais irritado e bateu-lhe com mais violência com a vara.
De seguida:
BURRO: “O que foi que eu te fiz? Por que é que já me bateste três vezes?”
BALAÃO: “Foi porque estás a troçar de mim. Se eu tivesse uma espada na mão, morrias agora mesmo!”
BURRO: “Por acaso não sou a tua jumenta, que tens montado toda a tua vida? Alguma vez te fiz isso antes?”
BALAÃO: “Não!”
Este é um episódio caricato: um homem inteligente a falar com um burro. Como é que um animal irracional e sem cordas vocais poderia repreender um homem?
O assunto é tão sério que Balaão acaba por perceber que tinha escapado da morte pelo menos três vezes seguidas graças à sua jumenta. Ora, se Balaão estivesse no caminho certo Deus não se lhe oporia.

III. As artimanhas de Balaão.

Balaão procurava falar somente o que Deus lhe permitia, isso de certa forma mostra que ele era um homem que conhecia a Deus. Porém pelos textos paralelos fica claro que Balaão tentava negociar com Balaque e com Deus. A Deus não conseguia faltar com a verdade profética, a Balaque não conseguia deixar de tentar apoderar-se das riquezas que ele sabia que tinha.

Mesmo que Balaão tenha dito: “… ainda que Balaque me quisesse dar a sua casa cheia de prata e de ouro, eu não poderia ir além da ordem do Senhor meu Deus, para fazer coisa alguma, nem pequena nem grande… (Números 22:18), as ações em que ele esteve envolvido não estão em coerência com as suas palavras. Na verdade o vidente nem deveria ter feito tal viagem.

É visível que Balaão não era um homem de carácter: quando estava nos montes e era confrontado com a presença do sangue do sacrifício ele falava a vontade de Deus, quando ia pelos caminhos a conversa era outra instruindo Balaque como poderia derrotar a Israel de forma a tentar conseguir os benefícios financeiros. Balaão tinha queria agradar a dois deuses de uma vez só: a Jeová e a Mamom.

IV. A razão de esta história estar na Bíblia.

1. O autor inclui esta história no livro para mostrar o poder de Deus sobre uma nação chamada Israel. E mesmo que o personagem seja um vidente, e conhecedor do Deus de Israel, ele não está acima de Deus.
2. Esta é uma história de guerra espiritual. A prova de que fora do conhecimento do povo de Deus há batalhas que se travam no exterior e Deus está ativo protegendo o seu povo.
3. Esta é a história de um líder ambíguo, ardiloso, eloquente e interesseiro. A história mostra-nos como Deus também fala connosco e adverte-nos mesmo quando não estamos no centro da sua vontade.
4. Balaão parece querer representar o crente que conhece a Deus e os seus desígnios mas oscila entre a vontade da carne e do espírito. Quando confrontado com as delícias e riquezas do mundo as suas motivações mudam.
5. A história diz-nos que serão malditos os que amaldiçoarem a Israel, e benditos o que abençoarem esta nação, pois o nome do Senhor é poderoso.
6. A história diz-nos que nada prevalece contra os propósitos de Deus. Quando Deus está no comando ninguém é suficientemente poderoso para o deter e vencer.
7. Por maior que seja a “recompensa”, ou a quantia monetária envolvida, ir contra a vontade de Deus nunca é uma alternativa válida para os que O conhecem.

Profecia final de Balaão.

Números 24:17 “Eu o vejo, mas não no presente; eu o contemplo, mas não de perto; de Jacó procederá uma estrela, de Israel se levantará um cetro que ferirá os termos de Moabe, e destruirá todos os filhos de orgulho.”

Perguntas.


1. Porque razão se pode dizer que Balaão estava de olho no dinheiro de Balaque?

2. Balaão é figura de certo tipo de crentes. Como se reproduz este comportamento hoje em dia?

3. Balaão é figura de determinado tipo de líderes. Como podemos saber se não estamos a ser liderados por algum Balaão?

4. Há pessoas que estão certas, dizem as verdades por completo, mas têm as motivações erradas. Estas pessoas são __________________ .

5. As profecias de Balaão eram corretas e apontavam para o futuro. Qual futuro?

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