O perdão encontra-se no centro do projeto de Deus para o futuro da humanidade.
O que nós estamos mais habituados a ouvir é retaliação, vingança, razão, mas só o perdão pode trazer mudança aos corações despedaçados pelo desapontamento e ás etnias dos povos do mundo a quem foi roubada a sua própria autodeterminação.
Justiça religiosa.
A falta de perdão atingiu também o mundo cristão de uma forma ardilosa. As igrejas cristãs embarcaram num sistema de justiça roubando também eles próprios o lugar de Deus, atrevendo-se a julgar os diferentes.
Lutero, o grande artífice da reforma protestante disse, por exemplo, a respeito dos Judeus:
"devem ser considerados como sujeira.", escreveu ainda que eles são "cheios de fezes do diabo ... que eles chafurdam como um porco" e a sinagoga é "uma prostituta incorrigível" Ele argumenta que as suas sinagogas e escolas devem ser incendiadas, os seus livros de oração destruídos, rabinos proibidos de pronunciar sermões, casas arrasadas, e propriedade e dinheiro confiscados. Eles não devem ser tratados com nenhuma clemência ou bondade, não permitir nenhuma protecção legal, e esses "vermes venenosos" devem ser dirigidos a trabalho forçado ou expulsos para sempre. Ele também parece tolerar o assassinato de Judeus, escrevendo "temos culpa em não matá-los."
A igreja cristã precisa de perdão de Deus.
Quantos não foram já escorraçados das igrejas por serem negros, por usarem brincos, por usarem roupa diferente, por cheirarem mal…
O perdão pode também ser usado como uma arma para voltar a abusar de novo.
Perdão como arma de manipulação.
Texto do Pr. Carlos Cardoso:
Tenho constatado com muita frequência, nos anos de experiência ministerial que tenho (e já são muitos), que os violadores do que seja ou de quem quer que seja, com a mesma intensidade e "velocidade" que agridem e ferem as suas vítimas, também lhes "pedem", direi antes, EXIGEM o perdão para os seus actos repugnáveis e abomináveis.
O que vem a seguir, SEMPRE, é mais do MESMO, ou seja, VIOLÊNCIA: Emocional, física, psíquica e até sexual em MUITOS casos que se conhecem.
O violador, parte do princípio que o perdão que lhe é concedido, é MAIS UMA VEZ, um passaporte, para INVADIR a dignidade e até a integridade física da sua vítima; Ou seja, ele considera que a vítima só tem UM direito: A OBRIGAÇÃO de o "perdoar" em "nome do amor" que ele "acha" ter direito. E assim, ele vai vivendo ano após ano, DESTRUINDO e MATANDO!
Geralmente, direi, SEMPRE, as vítimas são levadas a acreditar que seu agressor vai MUDAR; que aquela foi a última vez...que tal incidente, não se tornará a repetir...foi um momento de desnorte, etc, etc, etc.
Meus queridos amigos, o problema está nos nossos conceitos de PERDÃO. Jesus, quando perdoou aquela mulher apanhada em adultério disse-lhe: VAI e NÃO peques MAIS! Ou seja, o perdão de alguém, NÃO É nem NUNCA foi uma porta aberta, para a continuidade do pecado! Pelo contrário, é ALGO LIBERTADOR; é uma prova de confiança dada pelo OFENDIDO e que, visa a TRANSFORMAÇÃO do OFENSOR! Pergunto: NÃO É ASSIM QUE DEUS FAZ CONNOSCO?
Será que Ele nos perdoa para que continuemos a pecar?...Claro que não!
Tenho aprendido que SEMPRE que alguém me IMPÕE o perdão em "nome do amor" estou perante um presumível agressor ou o que quer que seja.
Termino esta minha nota fazendo lembrar que, Paulo ao escrever aos Coríntios no cap.13 dizia: O Amor NUNCA fica satisfeito com a INJUSTIÇA... Direi antes, e é nota minha, o amor tem por OBRIGAÇÃO, DENUNCIAR a INJUSTIÇA. O amor NÃO pactua NUNCA com o CRIME e com aqueles que têm prazer no seu uso.
Quanto a mim, NÃO me deixarei "manipular" NUNCA, por frases bonitas "em nome do perdão e do amor".
(Fim de citação)
O perdão e a cruz.
Não há perdão sem cruz. Perdoar implica não ser ressarcido da ofensa por quem não tem como pagar.
Vulgarmente, em português, usamos o termo “desculpe” para quem nos deu uma pisadela e na verdade não vamos pisar a pessoa como resposta porque percebemos que isso foi um ato involuntário de ofensa.
Há ainda quem pede desculpa para manter a paz e a harmonia mas na verdade no coração não há qualquer reconhecimento da razão do outro. É apenas um ato de formalidade. O orgulho impede de ver para além da razão.
Mas o perdão exige renúncia. É por isso que muitas pessoas têm dificuldade até em dizer a palavra porque ela é profunda e traz consigo a exigência de abdicar da justiça a que tem direito.
Perdoar não é uma acção de Justiça.
Perdoar é dar sem esperar nada em troca.
Justiça é cobrar mesmo quando o pagamento é impossível.
Perdoar é alcançar a paz, fazer justiça pode perpetuar a guerra quando houver uma nova oportunidade de vingança.
Consumismo e pregações de graça barata.
A igreja até aos uns 30 anos atrás vivia em ambiente de rigor justiceiro um pouco à semelhança da herança dos tempos medievais.
- Graça era um termo aplicado à Salvação e nada mais. A partir dessa graça inicial nada mais era necessário e entrava-se num rigor de usos e costumes.
- Hoje em dia Graça é para alcançar as bênçãos de Deus que são de graça. As pessoas buscam cura e dinheiro sem sequer pensar em abandonar vícios, mudar a linguagem ou o comportamento para com o seu próximo.
Um dia ia buscar alguém ao aeroporto e vi um autocolante num carro que dizia: “sou evangélico, sou próspero”.
Nenhum destes comportamentos corresponde com o sermão da montanha.
“Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? não fazem os gentios também o mesmo? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial.” Mateus 5:43-48
Este texto não vi ainda em nenhum autocolante de carro. Mas isto é o que importa: Dar incondicionalmente sem esperar receber nada em troca.
“Olho por olho, dente por dente” também está na bíblia, mas isso é justiça.
“… dá-lhe a outra face” também está na bíblia, e isso é graça.
Quando Jesus era criança houve uma grande revolta judaica contra os Romanos que começou em Séforis, uma cidade perto de Nazaré. A revolta foi dominada por 20.000 soldados romanos e 2.000 revoltosos judeus foram crucificados na estrada que dava acesso à cidade, a qual foi totalmente destruída.
Tu e eu nunca vimos ninguém crucificado mas Jesus viu. Nós dizemos que cada um deve levar a sua cruz mas ninguém sabe verdadeiramente o que isso é porque simplesmente vivemos numa sociedade em que realmente isso não existe.
Mesmo assim Jesus disse para amar os inimigos. Ele sabia o que eram inimigos.
Então a quem devemos amar ou fazer alvo da nossa GRAÇA?
Não temos inimigos mas temos que perturba a nossa paz: porventura quem faz a nossa vida um inferno, quem nos trai, quem não nos paga, quem abusa de nós.
Graça Amish.
Os Amish são um grupo de pessoas que vivem uma vida simples, sem tecnologia, sem electricidade, sem telefone, na Pensilvânia, EUA. Um dia um louco entrou numa das suas escolas e a 2 de Outubro de 2006 matou 5 meninas e feriu gravemente outras 5. Depois disso suicidou-se. Roberts estava cheio de ódio para com Deus e queria que alguém pagasse
Inesperadamente, homens da comunidade visitaram a viúva e ofereceram perdão, visitaram o pai do assassino e ofereceram perdão e ainda estiveram em maior número no funeral do assassino do que os membros da igreja Metodista de que faziam parte.
Um simples e doloroso acto de perdão mudou o ambiente em toda a cidade. A viúva e os seus filhos puderam pelo menos viver em paz e sem represálias dos restantes cidadãos.
A comunicação social em vez de falar de uma tragédia começou a falar de um milagre. A sociedade precisa de cura, precisa de paz, precisa de segurança, precisa de perdão e de graça.
Jesus na cruz também virou a história da humanidade. “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”
O acto Amish foi uma acção espontânea e não um acto de decreto da igreja.
Perdão não significa “não me importo”, ou “não interessa”. Ao contrário, importei-me e interessou-me, se não fosse assim não haveria nada para perdoar.
Desde Caim e Abel que a humanidade tem um apetite insaciável por sangue. As fronteiras das nações foram desenhadas com sangue, a história dos estados está repleta de sangue, mas para a humanidade resta apenas uma esperança: o sangue de Cristo. Heb 12:24 “…. Jesus, o mediador de um novo pacto, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel.”
Recomendo a leitura de Incondicional, de Brian Zahnd, editora Letras d’Ouro em quem me inspirei em grande parte para escrever esta mensagem
Samuel Dias
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