quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A estranha lá de casa fez filhos



Alguns anos depois que eu nasci, o meu pai conheceu uma estranha. Ela era recém-chegada em nossa pequena cidade, e desde o princípio, meu pai ficou perdidamente fascinado com aquela encantadora personagem. Em seguida, meu pai a convidou para viver com nossa família, e a estranha aceitou a oferta, e desde então tem estado connosco.


Enquanto eu crescia, nunca perguntei sobre o seu lugar em minha família, aliás, em minha mente jovem, ela já tinha um lugar muito especial. Ela então tornou-se em minha educadora, e os meus pais, automaticamente, passaram à condição de instrutores complementares. Minha mãe que sempre fizera questão de nos mostrar tanto o que era bom quanto o que era mau, e meu pai, que com a sua notória autoridade, e com severos castigos, ensinou-nos à obedecer, tinham agora, aquela estranha como um contrapeso para os valores de seus princípios.


E Ela era realmente deslumbrante, e nos mantinha enfeitiçados por horas à fio com o relato de suas aventuras, mistérios, humores e dramas. Interessante era como ela tinha também respostas para quaisquer coisas que quiséssemos saber sobre política, história ou ciência, e como conhecia tudo do passado, do presente e até, às vezes, como predizia o futuro!

Foi com ela que nossa família foi ao primeiro jogo de futebol, e que conheceu as ruas, outras gentes, as artes, a lua... E ela tinha uma genialidade de me fazer sorrir, como também o dom de me fazer chorar.

Aquela estranha nunca parava de falar, mas o que era mais estranho, é que meu pai não se importava. No entanto, haviam dias que minha mãe não suportava, e às vezes ela se levantava séria e calada, enquanto que o resto de nós ficávamos ali escutando o que aquela matraqueadora tinha para dizer, e sempre a minha velha ia para a cozinha onde podia ter um pouco de paz e sossego (e agora me pergunto se ela não teria ido lá para orar e pedir a Deus que mandasse embora a tal invasora).

Meu pai até então, dirigia nosso lar com convicções morais irretocáveis, mas a estranha não se sentia obrigada a honrá-las: as blasfêmias e os palavrões, por exemplo, não eram permitidos em nossa casa (nem por parte nossa, nem por parte de nossos amigos ou de qualquer um que nos visitasse), entretanto, nossa visitante de longo prazo, usava sem problemas sua linguagem inapropriada que às vezes queimava meus ouvidos e que fazia meu pai se retorcer em seu canto, e minha mãe, coitada, se ruborizava dos pés à cabeça. Meu pai nunca nos dera permissão para tomar álcool, mas a estranha nos animava a tentá-lo e a fazê-lo regularmente. Fez com que pra gente o cigarro parecesse charmoso e inofensivo, e que os charutos e cachimbos fossem coisas nobres. Falava livremente (e de forma demasiada) sobre sexo, e seus comentários eram às vezes evidentes, noutras sugestivos, mas no geral, eram vergonhosos.

Agora sei que meus conceitos sobre relações foram influenciados fortemente durante minha adolescência por aquela estranha. Repetidas vezes a criticaram, mas ela nunca fez caso aos valores de meus pais, mesmo assim, permaneceu em nosso lar.

Passaram-se mais de cinquenta anos desde que a estranha veio para nossa família. Desde então ela mudou muito; já não é tão fascinante como era ao principio, mas se encontra ainda, como a única companheira do meu velhinho pai, pois minha mãe há muito se despediu desse mundo, e nós os meninos daquela época, crescemos, nos casamos, e mudamos... E ela está lá ainda, tão surrada, ultrapassada, mas ainda falante, arrogante, ainda influente, e esperando que alguém possa lhe escutar, pois meu pai, tadinho, já está praticamente surdo, e só consegue mal mal enxergá-la...

Sabe qual é o nome dessa tal estranha? TELEVISÃO!

De uns tempos pra cá, já até arranjaram um marido pra ela, o COMPUTADOR, e eles já tiveram um filho, e que se chama TELEMÓVEL!
(autor desconhecido)

“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”
(Romanos 12: 2)

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