Escrevi um texto a respeito do divórcio há um tempo atrás: "Deus, o divórcio e o segundo casamento". Aliás, divórcio e segundo casamento são temas (dentre muitos outros) que
sempre me deixaram com "a pulga atrás da orelha". Desde que me conheço
por gente, enfiaram-me goela abaixo que divórcio não é permitido por
Deus, muito menos o segundo casamento. Aí eu ficava pensando: "Se Deus é
um Deus de amor, vai se alegrar em ver seu filho sofrendo uma vida
inteira? E onde entra a Graça nessa história?"
Lembro
que quando resolvi escrever sobre esse tema, pesquisei em sete versões
de Bíblia, assisti alguns vídeos, consultei livros, artigos,
especialistas, busquei ajuda em comentários bíblicos, acompanhei casais
em processo de divórcio (pessoalmente e virtualmente), diversas vezes debati com meus pais e marido... enfim, dei o meu melhor! Mas sei que ainda foi pouco, muito pouco. Li
e reli o texto dezena de vezes, e cada vez que lia, mudava alguma
coisa. Mas confesso que ao terminar, a pulguinha continuou atrás da
orelha.
Alguns
dias depois de publicá-lo, um leitor do blog me mandou o texto abaixo.
Enquanto lia, parecia que uma venda estava sendo retirada dos meus
olhos. Talvez essa não seja minha "posição final da vida inteira" sobre o
assunto, mas por enquanto é. Não poderia deixar de dividir com você,
afinal, coisa boa tem que ser compartilhada! Ele é longo, mas é um
investimento de tempo valioso. Se não puder ler tudo agora, leia em
partes, ou quem sabe em outro momento, mas não deixe de ler! Aí vai:
A lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade
vieram por meio de Jesus Cristo “(João 1:17).
"Será que
os que estão sofrendo tragédias matrimoniais também receberam a graça, como
descreve a Lei no Novo Testamento? É claro que afirmamos que a graça e a
verdade vieram por Cristo Jesus. Então, como predomina a graça naqueles que
sofreram a tragédia de um fracasso no matrimônio e um subseqüente divórcio?
Cristo não ensinou apenas com palavras, mas também com sua vida. Ele deu novas
idéias a seus seguidores, rejeitando o antigo ditado: “olho por olho, dente por
dente” e enfatizando o amor, não entre eles mesmos mas em relação aos outros.
Ele tirou a mulher da condição em que se encontrava e a fez ser reconhecida
como pessoa. Ensinou também o respeito para com a antiga lei judaica.
Quando
estudamos o que Jesus disse acerca do divórcio, devemos também estudar a vida
que Ele levou junto com os que tinham destruído seu casamento, bem como o que
ensinou sobre a lei judaica, especialmente a lei do divórcio. O que encontramos
em suas palavras? Se uma pessoa divorciada se casa novamente, o que Ele nos
diz?
“Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério contra aquela. E, se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério?” (Marcos 10:11-12).
“Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério contra aquela. E, se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério?” (Marcos 10:11-12).
Nós
podemos imitar a natureza compassiva e misericordiosa de Cristo, que enviou a
mulher do poço em Samaria até a cidade para ser sua testemunha. Suas palavras,
no entanto, será que negam suas ações? Por acaso as pessoas divorciadas que
casam com outra estão vivendo em adultério? Estão proibidas de servir a Cristo?
Devemos igualmente ouvir as palavras do apóstolo Paulo: “É necessário,
portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher” (I Tim.
3:2). Será que ele está falando de uma pessoa que se divorciou ou casou
novamente? Sobre este aspecto, Lucas faz somente um comentário muito conciso:
“É mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da lei. Quem
repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério: e aquele que casa com a
mulher repudiada pelo marido também comete adultério” (Lucas 16:17-18).
Mas Jesus deixou claro que o Antigo Testamento tinha algo
significativo a dizer. Existe uma lei! Quando foi perguntado pelos fariseus, no
Evangelho segundo Marcos, se “é lícito ao marido repudiar sua mulher”, Jesus
respondeu com uma pergunta: “Que vos ordenou Moisés?” Tornaram eles: “Moisés
permitiu lavrar carta de divórcio e repudiar” (Mc. 10:2-4). Há uma lei! A lei se
encontra em Deuteronômio 24:1-4, escrita bem antes de Jesus vir ao mundo.
Josefo, que viveu um pouco depois da época de Jesus, referiu-se a ela como a
“lei dos judeus”:“Aquele que deseja divorciar-se de sua esposa, por qualquer
motivo (muito comum nos homens), deve registrar por escrito que nunca voltará a
casar com aquela mulher. Portanto, ela terá a liberdade de casar com outro
homem. Entretanto, enquanto essa carta de divórcio não lhe for dada, não poderá
fazê-lo” Esta é a lei de que fala Deuteronômio”: “Se um homem tomar uma mulher
e se casar com ela, e se ela não for agradável aos seus olhos, por ter ele
achado coisa indecente nela, e se lhe lavrar um termo de divórcio, e lho der na
mão, e a despedir de casa; e se ela, saindo de sua casa, for e se casar com
outro homem...”(Dt. 24:1-2).
Essa lei
ainda estava vigente na época de Jesus. Portanto, temos de tratar dos “títulos”
da lei. A Bíblia fala apenas de um divórcio. Deus diz que Ele o fez. Em Jeremias
3, Deus recordou a Judá que estavam procurando problemas. Israel tinha sido
levado cativo. Deus disse a Jeremias que prevenisse a Judá de que ela tinha
sido testemunha da infidelidade de sua irmã Israel, e que Deus a havia mandado
embora e lhe dado carta de divórcio; mesmo assim, Judá não se arrependeu (Jr.
3:6-8). Havia outras coisas que os homens podiam fazer com suas esposas.
Muitos se
casavam com mais de uma mulher, sem sequer incomodar-se de pensar em divórcio.
Alguns destes foram servos de Deus: Salomão, Davi, Abraão e Jacó, por exemplo.
Heróis das revelações de Deus, mas também produto da sua cultura. Se não se
divorciava, o que fazia um homem daquela época com a primeira esposa quando
tomava outra? Punha-a de lado. Há uma palavra para isto no Antigo Testamento, a
palavra hebraica shalach. Ela é diferente da palavra que significa divórcio,
que é keriythuwth (como em Jer. 3:8), que literalmente significa excisão ou
corte do vínculo matrimonial. O divórcio legal era escrito como pedia
Deuteronômio 24, e o novo matrimônio era permitido. Shalach normalmente é traduzido
por “repudiar”.
As
mulheres eram “repudiadas” quando seu marido se casava com outra, para estarem
disponíveis quando este necessitava dela ou a queria novamente, repudiadas para
serem sempre propriedade, como escravas, ou ficando em isolamento total. Eram
dias cruéis para as mulheres. Elas eram “repudiadas” para favorecer outras, mas
não lhes era dada carta de “divórcio” e, consequentemente, tampouco o direito
de se casarem novamente. Essa palavra descreve uma tradição cruel e comum, mas
contrária à lei judaica. Algumas das injustiças e do terror experimentados
pelas mulheres daquele tempo que eram “repudiadas” podem ser vistas na
descrição que o Langenscheidt Pocket Hebrew Dictionary (McGraw-Hill, 1969) faz
da palavra shalach: “A fé cristã lançou raízes e floresceu em uma atmosfera
quase totalmente pagã, onde a crueldade e a imoralidade sexual eram normais e
onde a escravatura e a inferioridade da mulher eram quase universais. A
superstição e as religiões rivais, com todo tipo de ensinos errados, existiam
em todo o mundo”. Deus odeia o “repúdio”.
O profeta
Malaquias, com seu coração compadecido, implorou ao povo de Deus que parassem
com isso. A palavra traduzida por “repúdio” em Malaquias 2:16 não é a palavra
hebraica para divórcio, mas é shalach - repúdio. Veja como Malaquias responde
aos líderes que perguntavam como tinham cometido abominação em Israel e
profanado a santidade do Senhor: “Perguntais: por quê? Porque o Senhor foi
testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste
desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança. Não fez o
Senhor um, mesmo que havendo nele um pouco de espírito? E por que somente um?
Ele buscava a descendência que prometera. Portanto, cuidai de vós mesmos, e
ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade. Porque o Senhor, Deus de
Israel, diz que odeia o repúdio e também aquele que cobre de violência as suas
vestes, diz o Senhor dos Exércitos; portanto, cuidai de vós mesmos e não sejais
infiéis” (Mal. 2:14-16).
Depois
veio Jesus, e suas palavras não negaram suas ações! “Ele falou disso quando
disse: Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério; e aquele
que casa com a mulher repudiada pelo marido, também comete adultério” (Lucas
16:18). Todo aquele que faz isso comete adultério! Essa prática era cruel e
adúltera, porém não se tratava de um divórcio. A palavra do Novo Testamento
traduzida por “repúdio” vem do verbo grego apoluo. Esta é a palavra que os
autores do Novo Testamento usaram como equivalente a shalach (“deixar”ou
“repudiar”).
Existe
uma palavra hebraica para divórcio no Antigo Testamento, keriythuwth,
equivalente a uma palavra grega no Novo Testamento, apostasion. O
Arndt/Gingrich Lexicon Del Nuevo Testamento indica apostasion como o termo
técnico para uma carta ou escritura de divórcio, remontando até 258 a.c. Apoluo, a palavra grega que significa deixar de lado ou repudiar, não
significava tecnicamente um divórcio, apesar de às vezes ser usada como sinónimo Tratava-se de um termo de domínio total masculino: o homem com
freqüência tomava outras esposas e não dava carta de divórcio quando abandonava
as anteriores. A lei judaica que exigia que se concedesse carta de divórcio
(Dt. 24:1-4) era amplamente ignorada. Se um homem se casasse com outra mulher,
quem se importava? Se um homem repudiasse (apoluo) sua esposa, sem incomodar-se
de lhe dar carta de divórcio, quem se oporia? A mulher? Jesus se opôs. Disse
Ele: “É mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da
lei” (Luc. 16:17). E: “Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete
adultério; e aquele que casa com a mulher repudiada pelo marido também comete
adultério”(Lucas 16:18).
A
diferença entre “repudiar” e “divorciar” (no grego apoluo e apostasion) é
crítica. Apoluo indicava que a mulher era escrava, repudiada, sem direitos, sem
recursos, roubada em seus direitos básicos ao casamento monogâmico. Apostasion
significava que o casamento terminava, sendo permitido um casamento legal
subseqüente. O papel fazia a diferença. A mulher que tinha saído de casa podia
casar-se com outro homem (Dt. 24:2). Essa era e lei. Como foi que começamos a
ler “todo aquele que se divorcia da sua mulher” na passagem em que Jesus disse
literalmente “todo aquele que repudia ou abandona a sua mulher?”
Existem outras
passagens, além de Lucas 16:17-18 em que Jesus falou desse assunto. Essas
incluem Mateus 19:9, Marcos 10:10-12 (onde Marcos diz que Jesus determinou a
validade da lei do homem igualmente para a mulher) e Mateus 5:32. Nessas
passagens Jesus usou onze vezes alguma forma da palavra apoluo. Em todas as
ocasiões Ele proibiu o apoluo - o repúdio. Ele nunca proibiu apostasion - a carta
de divórcio, requerido pela lei judaica. Devemos traduzir a palavra grega apoluo
por “divórcio”? Kenneth W. Wues, em sua tradução expandida do Novo Testamento,
sempre vertia “repudiar” ou “deixar”, nunca “divorciar”. A tradução Revista e
Corrigida de Almeida, a mais antiga em português, sempre usou “deixar” ou
“repudiar”, da mesma forma a Revista e Atualizada.
Na versão
mais antiga em inglês, produzida em 1611 por encomenda do rei Tiago (King
James) temos um problema: em uma das onze vezes em que Jesus usou o termo, os
tradutores escreveram “divorciada” em lugar de “repudiada” ou “abandonada”. Em
Mateus 5:32 eles escreveram: “E aquele que casar com a divorciada comete
adultério”. A palavra grega não é apostasion (divórcio), mas é uma forma de
apoluo, a situação que não inclui carta de divórcio para a mulher. Ela,
tecnicamente ainda estaria casada. Mateus 19:3-10 relata que os fariseus perguntaram
a Jesus sobre esse assunto. Depois que Ele afirmou: “De modo que já não são
mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem”
(v. 6), eles indagaram: “Por que mandou então Moisés dar carta de divórcio
(escrita apostasion) e repudiar {a mulher}?” (v.7). Jesus respondeu: “Por causa
da dureza do vosso coração” (v.8).O primeiro direito básico humano que Deus nos
concedeu foi o de nos casarmos. Nenhuma outra companhia era adequada. Nos dias
de Jesus os direitos humanos estavam concentrados apenas nos homens. Jesus
mudou isso. Ele exigiu obediência à lei: demandou direitos iguais para a mulher
no matrimónio.
A graça é
abundante em Cristo Jesus! Jesus disse a esses homens que repudiar a esposa e
casar-se com outra era adultério. Adultério! A lei (Deut. 22:22) prescreve a
pena de morte como castigo para o adultério, tanto para o homem como para a
mulher. Isso foi difícil de engolir para os homens que faziam com sua mulher o
que lhes comprazia. Mateus 19:10 registra a seguinte reação: “Se essa é a
condição do homem relativa à sua mulher, não convém casar!” Eles não viviam em
uma cultura que esperava que o homem vivesse apenas com uma mulher por toda a
vida, muito menos que desse direitos iguais à mulher se o casamento acabasse.
Como foi que começamos a ler “aquele que divorciar sua mulher” nas passagens em
que Jesus na verdade disse “aquele que repudiar ou abandonar sua mulher?”
Parece
que o processo começou ali onde apoluo foi traduzido erroneamente como
“divórcio” pela primeira vez, em 1611. A versão Standard Americana corrigiu o
erro em 1901, mas nunca chegou a ser suficientemente popular para fazer muita
diferença. Wuest teve o cuidado de evitar os erros mencionados, como vimos
acima. Porém, quase tudo o que foi impresso sofreu a influência da versão King
James, e até os léxicos gregos americanos e os tradutores mais modernos parece
que se deixaram influenciar por essa ocorrência, traduzindo apoluo por
“divórcio”, mesmo quando o significado da palavra não inclui o divórcio por
escrito (apostasion).
Assim, a
tradição nos ensinou a ter em mente “divórcio”, mesmo quando lemos
“repúdio”. Seria o divórcio por escrito a solução para a prática cruel do
repúdio, como indica Deuteronômio? O capitulo 24 é uma evidência de que, assim
como Deus ouviu as queixas no Egito e proveu libertação da sua escravatura,
também ouviu as súplicas das mulheres escravizadas e as libertou do abuso, por
meio de uma necessidade trágica, o divórcio. Trágica porque termina com algo
que nunca deve terminar o matrimônio; necessária para proteger as vítimas
daqueles que não obedecem as regras do nosso Criador, o Todo-Poderoso.
Necessária, originalmente porque o homem repudiou a mulher, enredando-as em
matrimônios ilegais, múltiplos e adúlteros. O divórcio é uma tragédia.
O
divórcio é um privilégio, previsto como um corretivo para situações
intoleráveis. É um privilégio que pode ser, e com frequência é, abusado. O
divórcio não é um quadro bonito, na maioria dos casos. Solidão, rejeição, um
profundo senso de ter falhado, perda de auto-estima, crítica dos familiares,
problemas com a educação dos filhos e muitos outros problemas assaltam os
divorciados. O divórcio pode ser mais traumático que a morte de um cônjuge. A
morte do cônjuge é difícil de ser superada, mas um cônjuge falecido não retorna
mais. O divorciado normalmente retorna, e assim prolonga a situação.
O
divórcio é, porém, como no tempo de Jesus, uma solução parcial para uma
situação séria e cruel, e pode ser a única solução razoável. Pode ser
necessária, mas sempre é uma tragédia. É fácil pregar contra o divórcio, mas é
difícil para a igreja ser construtiva, provendo preparo para o casamento. Temos
de estar prontos para prevenir alguns divórcios, ajustando nossas leis de
divórcio ou proibições religiosas contra o divórcio, mas essas ações não
prevêem o rompimento de matrimónios Quando os casais permanecem juntos somente
por preocupação com a notoriedade requerida pelas leis de divórcio, ou pela
“segurança dos filhos”, o resultado pode ser uma tragédia.
Desastrosos
triângulos amorosos, crueldade doméstica, abuso de crianças, homicídio e
suicídio são algumas das consequências documentadas de casamentos que falharam,
mas não terminaram. Que opção mais terrível! Um lugar em ruínas é uma tragédia,
mas nunca esquecerei de um jovem que pôs uma pistola na boca, acabando, assim,
com seu casamento como alternativa ao divórcio. Sua igreja tinha proibido o
divórcio. Nossa taxa elevada de divórcios não é um problema real. O fracasso nos
casamentos vem primeiro, depois o divórcio.
A taxa de
divórcios é unicamente um indício da nossa alta taxa de casamentos ruins. Para
corrigir isso temos de fazer mais do que pregar contra o divórcio: temos de
revigorar os casamentos. Esse é o nosso desafio! Uma pessoa divorciada pode ser
ordenada diácono ou pastor? O apóstolo Paulo, um homem instruído, conhecia a
palavra grega para divórcio (apostasion) e conhecia sua cultura. Também sabia
que Cristo aceita qualquer pessoa, até ele, o “maior dos pecadores” (I Tim.
1:15). É inquestionável que, naquela época, os homens tinham muitas esposas,
escravas e concubinas. Cada uma dessas relações, abarcadas pelo termo
poligamia, constituía adultério. Paulo rejeitou a escolha de homens nessa
condição como líderes da igreja. A instrução de dar carta de divórcio em
Deuteronômio 24 limitou o homem a uma só mulher, e ainda proibiu a poligamia e
o adultério inerente a ela. Parece que Paulo concordava plenamente com isso
quando diz: “É necessário, portanto, que o Bispo seja irrepreensível, esposo de
uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar...”
(I Tim. 3:2). Ele rejeita a poligamia, não o divórcio. Apesar de sérios abusos,
a lei do divórcio (Dt. 24) ainda tem validade.
O
divórcio é uma solução radical para problemas maritais insuperáveis. Ele
termina com toda a esperança de que o matrimônio deve ser conservado, e declara
publicamente que ele falhou. É preciso estar contrito nesse momento da verdade.
O pecado relativo a essa falha tem de ser confessado. “Se confessarmos os nossos
pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda
a injustiça” (I João 1:9). Isso
também inclui o perdão de fracassos no casamento.
Ao
contrário do repúdio, a carta de divórcio, exigida pela lei, provê um grau de
dignidade humana para mulheres sujeitas ao abuso cruel da poligamia adúltera e
aos caprichos de homens de coração endurecido. Não há nada tão atordoante como
“quero divorciar-me de você”, não é verdade? O divórcio declara o término legal
do matrimónio portanto, se houver qualquer acusação de adultério ou bigamia,
qualquer das partes pode voltar a casar-se novamente. O divórcio rompeu todos
os laços maritais e todo controle da esposa anterior. O divórcio exigia
monogamia estrita, prevenia o término unilateral e preservava o direito básico
de casar-se. O mesmo ocorre hoje: abandono, negligência, deserção, o que se
queira dizer do coração duro que deixa a esposa por outra mulher sem
divorciar-se foi e está proibido pelo mesmo Senhor Jesus Cristo (Mat. 5:32;
19:9; Mar. 10:11-12; Luc. 16:18).
Durante
séculos, muitas comunidades cristãs têm interpretado esses ensinos de Jesus da
seguinte maneira:
1. O
divórcio é absolutamente proibido, ou melhor, é permitido somente no caso em
que se admite ou comprova o adultério.
2. Uma
pessoa divorciada não tem permissão para casar novamente;
3. Uma
pessoa divorciada que casa novamente vive em adultério;
4. Alguém
que se divorcia não pode ser ordenado diácono ou pastor
Todas as pessoas que mantêm essas convicções estão erradas!
As três
primeiras são contrárias à lei de Moisés e estão baseadas em um versículo em
que Jesus nem sequer usou a palavra grega para divórcio (apostasion); a quarta
está baseada em um versículo em que Paulo também não a usou. A palavra que
Jesus usou foi apoluo, “repudiar”.
O
problema do qual Ele estava tratando é o repúdio, não o divórcio. Uma pessoa
divorciada deve ter muita graça e determinação para servir em uma igreja que
adota as quatro posições mencionadas acima. Como isso é possível, quando a
igreja é o corpo de Cristo na terra, que deve funcionar e servir como Ele o fez
em pessoa? Cristo, que aquela vez levantou sua voz em Jerusalém, precisa olhar
do céu para baixo e levantar a voz para nós. Ele veio e chamou Simão o zelote,
um radical anti-romano, e Mateus, um rejeitado servo de Roma, uma dupla tão
incompatível como dificilmente se pode encontrar em nosso mundo de hoje; mas
Ele os pôs para trabalharem juntos em seu Reino.
Depois
eles foram para a Samaria. Ele se revelou diante de uma mulher cujos antecedentes
de fracassos matrimoniais eram vergonhosos, e enviou-a para compartilhar a
revelação de Deus em Cristo, como se ela fosse como qualquer outra pessoa. Ele
tem de levantar sua voz quando vê que desperdiçamos nosso tempo tentando
calcular a quem podemos proibir de servir em sua igreja. Jesus ministrou
abertamente a todos os que se achegaram a Ele. Hoje, muitos dos nossos amigos
divorciados têm medo das nossas igrejas. Eles sabem que alguma não combina com
a Bíblia, em nosso ensino sobre divórcio. Podemos estar corretos, estando tão
opostos a Cristo?
Nossas
interpretações tradicionais nos separam das pessoas que receberam a Cristo? Se
for assim, estamos equivocados. Ele veio para salvar os pecadores. As únicas
pessoas que Ele sempre rejeitou foram os que queriam justificar a si mesmos, os
religiosos “justos”. Será que nossa compreensão das suas palavras é correta,
simplesmente porque não está de acordo com a sua vida? Pessoas divorciadas são
gente! Por séculos, elas têm sido excluídas da comunhão e do serviço, da
alegria e da igualdade, e até da salvação; pessoas pelas quais Cristo morreu.
Seja o
divórcio pecado ou não, essa exclusão com certeza o é! O Senhor
nos deu a sua graça para sermos canais da graça de Cristo Jesus para os
divorciados."
Walter L. Callison
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